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“PS deveria ter vergonha por desconsiderar direitos, liberdades e garantias fundamentais”, acusa José Sócrates

O antigo primeiro-ministro José Sócrates atribuiu as críticas que lhe foram feitas pelo dirigente socialista Fernando Medina ao seu “mandante” na liderança do PS, que acusou de “profunda canalhice” e de “ajustar contas com a sua covardia moral”.

José Sócrates fez estas acusações em entrevista à TVI, sem nunca mencionar o nome do secretário-geral do PS e primeiro-ministro, António Costa, quando confrontado com declarações do presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, na segunda-feira, no seu espaço de comentário também na TVI.

Fernando Medina considerou que o facto de José Sócrates ter sido pronunciado por crimes de branqueamento de capitais e de falsificação de documentos pelo Tribunal Central de Instrução Criminal é inaceitável do ponto de vista ético e corrói a vida democrática.

“Eu ouvi essas declarações e ouvia-as com a devida repugnância. Mas concentremo-nos no essencial, porque o essencial não é esse personagem, o essencial é quem o manda dizer isso. Falemos, portanto, do mandante”, reagiu José Sócrates, que foi secretário-geral do PS entre 2004 e 2011.

De acordo com o antigo primeiro-ministro, “o mandante” de Fernando Medina “é a liderança do PS e a sua direção”.

“Essas declarações dizem tudo sobre o que realmente pensa a direção do PS. Portanto, a direção do PS acha que pode e deve fazer uma condenação sem julgamento, fazer uma condenação sem defesa, esquecendo até o princípio da presunção da inocência base do direito moderno”, declarou José Sócrates.

Mas o antigo líder socialista foi ainda mais longe nas suas críticas, considerando que essas declarações “são de uma profunda canalhice”.

“Isto para mim é penoso, mas quero responder. O PS deveria ter vergonha por desconsiderar direitos, liberdades e garantias fundamentais. Valores que fizeram a cultura política do PS quando lutou pela liberdade em 1975”, disse.

José Sócrates aproveitou ainda para dizer que o fundador do PS, antigo Presidente da República e primeiro líder dos socialistas, Mário Soares, esteve sempre ao seu lado, mesmo durante o processo Operação Marquês.

“Mesmo aí, quando expressou esse companheirismo comigo, por razões não apenas pessoais, mas entendendo que era o seu dever, mesmo aí tentaram desvalorizar essa posição. Tentaram insinuar que ele [Mário Soares] valorizava demasiado a amizade”, alegou.

José Sócrates, em estilo de conclusão, disse que continua a entender que fez bem em abandonar o PS em 2018.

“Já não aguentava mais o silêncio. Grande parte desses que dizem essas coisas estão a ajustar contas com a sua própria covardia moral. Não disseram uma palavra quando fui detido no aeroporto [de Lisboa], com televisões, e com base no argumento do perigo de fuga. Hoje, isso parece ridículo, mas fui preso 11 meses sem acusação”, acrescentou.

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