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Juíza conquista redes sociais com texto que arrasa a meritocracia

“A meritocracia naturaliza a pobreza, encara com normalidade a desigualdade social e produz esquecimento – quem defende essa falácia não se recorda que contou com inúmeros auxílios para chegar onde chegou”, escreve a juíza Fernanda Orsomarzo.

“Repito, sou branca”. Juíza reitera a ideia de que não há mérito na chegada a uma meta, quando as linhas de partida são diferentes.

Fernanda Orsomarzo utilizou as redes sociais para desconstruir a teoria do mérito. E serviu-se da sua experiência de vida, das ferramentas que teve ao dispor e que não são dadas a todos. Em sociedades desiguais, defende, a questão do mérito perde relevância.

Mas a meritocracia tem outros perigos: “naturaliza a pobreza, encara com normalidade a desigualdade social e produz esquecimento”.

E quem defende o mérito “não se recorda que contou com inúmeros auxílios para chegar onde chegou”.

Fernanda usou o Facebook para fazer um relato da sua história de vida. “Ralei duro para ser Juíza de Direito. Cheguei a estudar 12 horas por dia em busca da concretização do tão almejado sonho. Abdiquei de festas, passei feriados em frente aos livros, perdi momentos únicos em família. Sim, o esforço pessoal contou. Mas dizer que isso é mérito meu soa, no mínimo, hipócrita”, começa por escrever, em Português do seu Brasil.

E onde termina o mérito desta magistrada e entram em cena as questões que estão fora do alcance da individualidade?

“Em primeiro lugar, nasci branca. Faço parte de uma típica família de classe média. Estudei em escola particular, frequentei cursos de inglês e informática, tive acesso a filmes e livros. Contei com pais presentes e preocupados com a minha formação. Jamais me faltou café da manhã, almoço e jantar. Nunca me preocupei com merenda ou material escolar”.

E qual é o mérito de Fernanda? Nenhum. A desigualdade depende de terceiros.

“Enquanto para alguns esses entraves não passam de meras pedras no caminho, para outros a vida em si é uma pedra no caminho”.

Sim, esta juíza admite que o seu esforço individual foi relevante. Porém, prossegue, “eu nada seria sem as inúmeras oportunidades proporcionadas pelo fato de ter nascido – repito – branca e no seio de uma família de classe média minimamente estruturada”.

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“O mérito não é meu. Na linha da corrida em busca do sucesso e realização, eu saí na frente desde que nasci. Não é justo, não é honesto exigir que um garoto que sequer tem professores pagos pelo Estado entre nessa competição em iguais condições. Nunca, jamais estivemos em iguais condições”.

Segundo defende, a meritocracia “desresponsabiliza o Estado” e coloca sobre os ombros do indivíduo “todo o peso da sua omissão e da falta de políticas públicas”.

O texto de Fernanda Orsomarzo, publicado no dia 30 de agosto, tornou-se viral, no Facebook, com mais de 100 mil interações, entre comentários, reações e partilhas.

Veja o post.

Ralei duro para ser Juíza de Direito. Cheguei a estudar 12 horas por dia em busca da concretização do tão almejado…

Publicado por Fernanda Orsomarzo em Terça-feira, 30 de Agosto de 2016

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