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François Delecour: “Os novos WRC deveriam ser limitados aos pilotos de topo”

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Aproveitando a sua presença no 14.º Motorshow Porto, que se está a disputar este fim-de-semana na Exponor, falamos com François Delecour, antigo piloto da Ford e da Peugeot no campeonato do mundo de ralis.

Para além de se declarar o um apreciador da cultura e culinária portuguesas, o francês falou-nos da sua carreira e da forma como vê os ralis atuais, especialmente o campeonato do mundo, não deixando de falar da futura geração dos WRC que se vai estrear em 2017.

Muito acessível, como não conseguia ser quando era piloto de fábrica no WRC, François Delecour falou-nos nesta sua participação no Motorshow Porto. Um convite preparado com antecedência pela Xikane, organizadora do evento.

“Faço bastantes eventos como este, nomeadamente em Espanha onde também utilizo Mitusbishi Lancer. São carros muito interessantes, apesar de se tratarem de carros de grupo N. E é claro, tratando-se de Portugal eu não poderia recusar, porque tenho boas recordações deste país, especialmente dos fãs de automobilismo, porque são entusiastas e conhecedores”, afirma o piloto gaulês.

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Sobre as suas deslocações ao Rali de Portugal destaca mesmo um episódio ocorrido durante uns reconhecimentos na zona de Viseu: “Estávamos a preparar a prova numa zona de floresta – um eucaliptal, quando se partiu uma roda do Ford Escort Cosworth”.

“Tentamos contactar a assistência mas eles estavam a uns 50 quilómetros de distância. Esperamos horas que chegassem e entretanto fez-se noite. Como estávamos com frio tive a brilhante ideia de acender uma fogueira. Quase peguei fogo ao carro. A custo apagamos o incêndio com o que tínhamos à mão … ramos (risos)”, conta Delecour.

Dos seus tempos no campeonato do mundo de ralis em que era piloto de fábrica o gaulês tem boas recordações, mas, tal como Miki Biasion, admite que na Ford existia alguma frieza “porque os britânicos são mesmo assim, embora tenha passado por lá numa época diferente. Mas também admito que como ele na Lancia, também na Peugeot me sentia mais em família”.

Os ralis que François Delecour disputa atualmente são muito diferentes desse tempo, e já não há provas com cinco dias, como nessa altura, no entanto tem conseguido prolongar a sua carreira.

“Enquanto houver patrocinadores continuo. Adorei esta última fase em que competi com o Porsche 997 GT3 e fui campeão do mundo RGT. Era um sonho que tinha desde criança, quando via pilotos como Jean-Luc Therrier e Jean-Pierre Nicolas competir com os Porsche de então. Tenho pena é que a FIA queira restringir a categoria para privilegiar os WRC”, afirma Delecour.

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O gaulês tem uma opinião muito própria sobre o WRC e restantes categorias que vai de encontro às expressadas por outras personalidades: “Atualmente os carros são muito potentes e os pilotos que os guiam nem sempre estão à altura. Em França tem havido alguns acidentes feios. Veja-se também o que aconteceu no WRC com o Sebastien Lefebvre. Não é bonito”.

“Aliás, aqui no Motorshow há um piloto com um Fiesta R5 que não tem qualquer experiência para guiar um carro como aqueles. Não deveria acontecer. Há etapas que não se devem queimar na aprendizagem nos ralis. O Europeu está a ser uma boa plataforma para isso acontecer, mas os WRC deveriam ser limitados aos pilotos de top”, considera.

Delecour tem tido um percurso curioso e já veterano parece ter conseguido relançar a sua carreira. Ficamos curiosos como é que pelo meio optou por um desvio e ir competir no campeonato de ralis da Roménia.

“Tratou-se de uma oportunidade sugerida por um amigo de Aix-en-Provence, em que podia competir lá com o apoio das autoridades romenas. Por lá fiquei durante três anos, tornando-me campeão da Roménia. Depois o campeonato começou a ter vários R5, nomeadamente do Tempestini, e por isso aceitei o convite para guiar o Porsche, que era o meu sonho de criança”, explica ainda o francês.

Fotos: Ricardo Cachadinha

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