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Trabalhar 6 Horas por Dia, é real na Suécia!

Assim de repente qualquer um de nós diria que todas as áreas conheceram um franco desenvolvimento nas últimas décadas, certo? Certo, até porque as novas tecnologias chegaram a locais inimagináveis. Mas e se eu vos disser que há, pelo menos, uma área que espera pelo merecido desenvolvimento há demasiado tempo, acreditam? É bom que acreditem porque não estou a brincar! Falo, espantem-se, do trabalho. Sim, leram bem: do trabalho! Se pararem para pensar vão concluir que praticamente desde Henry Ford que tudo se mantém igual. Pois bem, a Suécia está tentar implementar algumas alterações à forma como encaramos o trabalho. Curiosos? Então terão de ler a minha crónica desta semana!

Seja qual for a área em que os leitores trabalhem aposto que acerto em três coisas: não têm uma verdadeira paixão por aquilo que fazem; trabalham mais horas do que deviam, e, por último, sentem que o trabalho vos retira todas as forças, físicas e anímicas, “impedindo-vos” de fazer tudo o resto do vosso quotidiano. Acertei? Pois, sejam bem-vindos à dura realidade da esmagadora maioria da população mundial!

Mas calma, não quero ser mal interpretado. As profissões em si mudaram muito ao longo dos anos, obviamente. Enquanto umas evoluíram desmesuradamente outras entraram em desuso e despareceram por completo (e nunca nos poderemos esquecer da enorme quantidade de profissões que as evoluções tecnológicas acabaram por criar). Mas o trabalho continua exactamente igual. Aliás, se reflectirmos sobre este tema até percebemos que a situação geral piorou, e muito.

Antigamente quando o trabalhador acabava o seu turno, o que acontecia? Ia para casa (ou para outro local qualquer) e vivia a sua vida da forma que desejasse. Ora hoje tal cenário não existe. É que na teoria os turnos continuam a ser de oito horas mas na prática são de 24h. Sim, porque depois de sair do emprego o trabalhador continua a ter a obrigação de consultar, e responder, a emails, telefonemas e mensagens escritas, por exemplo. Ou seja, existe uma pressão para que o trabalho nunca termine verdadeiramente. Podemos nem sequer estar no nosso local de trabalho mas, quase de certeza, que estaremos a trabalhar.

Obviamente que isto acaba por afectar toda a nossa vida. O quê, passar meia-hora a brincar com o nosso filho e deixar os telemóveis, computadores e tablets de lado? Nem pensar! Então e quem é que vai responder aquele email importantíssimo que está para chegar? Pois. O quê, ir beber um copo com os amigos e desanuviar do stress diário a que estamos sujeitos? Só se for em sonhos! Então e quem é que vai atender aquela chamada importantíssima do investidor estrangeiro? Pois. O quê, passar largos minutos a fazer amor com a nossa mulher? Ok, tudo bem, desde que…consigamos ao mesmo tempo ir respondendo às mensagens importantíssimas que o patrão envia a cada dez minutos.

Sim, os exemplos parecem descabidos, mas o tema é muito sério. Até porque a situação pode afectar não só a rotina diária, mas também a nossas férias ou períodos de doença ou até mesmo gravidez, por exemplo (e aí já estamos a falar de situações ilegais, o que é bastante mais grave). Hoje em dia o trabalho suga-nos todas as energias que temos no corpo. Parece que existe uma obrigação da nossa parte em estarmos disponíveis desde que o sol nasce até se pôr.

E o pior é que se, por mero acaso, dissermos que “não” é certinho que seremos prejudicados mais cedo ou mais tarde (isso ou somos substituídos por alguém que está disposto a trabalhar 23h sobre 23h por dia).

Ora como bem sabemos nem sempre “mais” significa “melhor”. Quantidade nem sempre é sinónimo de qualidade (e isso aplica-se inteiramente a este caso). Como é que os patrões, e as empresas, ainda não perceberam que ao colocarem os respectivos funcionários a trabalhar um maior número de horas a respectiva produtividade diminui? É que é humanamente impossível permanecer concentrado, e igualmente eficaz, durante um número de horas tão elevado! Ou seja? Acabamos por usar parte das horas do expediente para não fazer nada ou para fazer outras coisas (como estar nas redes sociais, ler as notícias ou resolver problemas pessoais).

E para além disso acabamos por prejudicar a nossa saúde física e mental, o nosso casamento, os nossos filhos e a restante família, os nossos amigos, os nossos hobbies ou passatempos e tudo o que de resto que existir na nossa vida. Sim, porque algo terá que falhar! E onde é que não podemos errar? No emprego, obviamente, dado que é ele que nos paga o salário. No fundo estamos perante uma forma mais sofisticada de chantagem (e a um tudo-nada de distância de uma nova forma de escravização digo eu…).

Ora como é que podemos inverter tudo isto? Colocando os funcionários a trabalhar menos horas por dia. Como é que ainda ninguém fez este raciocínio neste país? A resposta é simples: fazer esse raciocínio eles fizeram…mas não se preocupam verdadeiramente com os seus empregados ao ponto de pensarem nisso a sério. Felizmente os nossos amigos suecos têm vindo a testar algo que pode mudar esta situação por completo. Falo, espantem-se uma vez mais, de reduzir o horário de trabalho das oito para as seis horas diárias. Sim, leram bem: “apenas” seis horas de trabalho por dia!

Várias empresas privadas têm vindo a testar estas seis horas de trabalho por dia e os resultados…são positivos. Segundo os patrões: a produtividade aumentou drasticamente; o cansaço acumulado dos empregados desceu e sua a satisfação geral aumentou. Ou seja? Todos ganham e passaram todos a fazer mais, e melhor, em menos tempo. O que seria expectável. Algo que também era fácil de prever era a diminuição do cansaço e o aumento da satisfação. Porquê? Porque mais horas livres implica mais tempo para as tarefas diárias, para a família, para os amigos ou simplesmente para dormir. E toda a gente sabe que um trabalhador contente é um trabalhador mais eficiente.

Mas, espantem-se pela terceira vez nesta crónica, esta medida também foi adoptada pelo sector público! Exacto, o próprio Estado sueco reconheceu a utilidade desta medida e aplicou-a em diversos serviços por si prestados. Por exemplo? Um lar de terceira idade sueco aplicou esta medida às enfermeiras que para si trabalham. Resultado? Turnos mais curtos, é certo, mas a qualidade do serviço aumentou consideravelmente. O que, digo eu, também seria óbvio (dado que uma enfermeira mais concentrada fará um melhor trabalho). “Ah, mas será que isso compensa?”. Pois, neste caso certamente que compensa: é que pode ser a diferença entre estar vivo ou estar morto.

Agora pergunto eu: não faria sentido aplicar medidas deste género em Portugal? Não deveriam certas profissões (como médicos, enfermeiros ou forças de segurança, apenas para dar três exemplos) de possuir mais horas de descanso? Não seria benéfico pensar um pouco mais nos trabalhadores e na sua saúde (dado que em muitos dos casos acontecem depressões e esgotamentos precisamente por excesso de trabalho)? Pois, se calhar fazia. Contudo, infelizmente, cheira-me que serei pai de filhos (e avô de netos) e nada disto está em prática em Portugal.

Valha-nos a Suécia e a sua capacidade de estar, permanentemente, à frente dos restantes países europeus. Esperemos que esta “moda” pegue na Suécia, e não só, obviamente. Os trabalhadores agradecem. Ah, e os patrões também, como ficou provado acima.

Termino com duas notas finais. Primeiro: obviamente que nem todas as empresas são “más”.

Felizmente ainda existem empresas que se preocupam verdadeiramente com os seus empregados não cometendo certo tipo de actos e abusos. O que é dito acima diz respeito a uma parte e nunca a um todo. Segundo: infelizmente não existem sinais de que as questões ligadas a emails, mensagens ou telefonemas fora do horário de trabalho terminem tão depressa. Resta-nos esperar que o bom senso acabe por vir ao de cima mais cedo ou mais tarde. Afinal de contas alguém acreditaria na redução do horário de trabalho diário de oito para seis horas? Pois, e mesmo assim ele está a acontecer. Por isso façam figas, pode ser que o futuro nos surpreenda!

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