Opinião

Perfecionismo e ansiedade – Como geri-los no regresso ao trabalho

Ser perfecionista no trabalho será virtude ou defeito? Embora não haja resposta concreta, a verdade é que esta característica pode trazer consigo alguns problemas de saúde, nomeadamente o aumento de estados de ansiedade. Saiba como controlar o perfecionismo em contexto laboral com as dicas da psicóloga Catarina Lucas.

Há quem tenha tendência para “tentar ser perfeito”. É assim caracterizado o traço de personalidade, onde tudo tem de correr na perfeição e consoante padrões “demasiado” altos. “Mas como ela não existe, o risco que os indivíduos perfecionistas correm é de nunca se sentirem satisfeitos”, revela a profissional.

Embora esta característica possa ter as suas vantagens, desde estimular o desenvolvimento pessoal e o dar o melhor de si em cada projeto, nem sempre os resultados destes comportamentos perfecionistas são saudáveis. A psicóloga garante que “o desejo desenfreado pela procura da perfeição pode pesar na saúde mental e causar efeitos indesejados, algo ainda mais comum em contextos laborais”.

Caso não alcance aquilo que considera ser o esperado, o indivíduo começa a desenvolver pensamentos pessimistas, de frustração e de autoavaliação negativa. “Por achar que não atingiu o tal padrão esperado, mas tão irrealista muitas vezes, atinge níveis de deceção que podem conduzir a uma maior sensibilidade a estados de stress e de ansiedade”, conta Catarina Lucas.

A preocupação excessiva começa a revelar os seus efeitos através da aceleração dos batimentos cardíacos, hiperventilação e tremores, o que, por sua vez, resulta na diminuição da produtividade e contribui para uma maior desmotivação e insatisfação com o trabalho.

A psicóloga Catarina Lucas deixa algumas dicas para que a obsessão com a perfeição em contexto laboral não atinga níveis mais graves ao ponto de provocar algum esgotamento psicológico.

Autoaceitação

“Aceitar que o perfecionismo não é realista é fundamental. Convém perceber que, por mais que se esforce e dê o melhor de si para um determinado trabalho, este terá sempre defeitos aos olhos de alguém, e isso faz parte do mundo laboral. O nosso trabalho não agrada a todos e quanto mais cedo interiorizar isso, mais facilmente viverá com o perfecionismo na sua vida”.

Tenha paciência

“Pode ser complicado quando se é uma pessoa perfecionista, mas esta é necessária para conseguir trabalhar sem estar constantemente preocupado em ser o melhor, sem nunca falhar. Tal é inevitável e, um dia, poderá mesmo acontecer, e quando acontecer, é necessário não desesperar e saber lidar com o erro da melhor maneira”.

Seja flexível

“Aprenda a deixar que os outros também assumam o controlo de vez em quando das suas tarefas. Um comportamento saudável pelo facto de se ir tornando, ao longo do tempo, mais flexível com as regras que implementa a si próprio e de perceber que esta flexibilidade também traz bons resultados no trabalho”.

Crie uma boa relação com o erro

“Não tolerar o erro, cria frustração. Por isso, mais vale estar consciente de que ele pode um dia acontecer e que está tudo bem com isso. Não é o fim do mundo, muito menos significa que é incompetente no trabalho. Não se fie na aprovação dos outros quando a opinião de cada um é sempre subjetiva”.

A psicóloga confirma que “é importante que o indivíduo compreenda que a relação constante entre o perfecionismo e a ansiedade pode trazer diversas consequências para a sua vida, como os conhecidos burnout, transtornos e estados de depressão”.

Num mundo de trabalho cada vez mais veloz e exigente, Catarina Lucas alerta que “é preciso ter cuidado quando o levamos demasiado a sério na vida, porque o trabalho eventualmente acaba, mas as marcas dele na saúde mental podem ficar marcadas para sempre”. “Mais do que nunca, é fundamental que procure formas mais saudáveis de lidar com a vida profissional”, conclui.

Sobre Catarina Lucas

Doutoranda em Psicologia Clínica na Universidade de Lisboa, Mestre em Psicologia Clínica e da Saúde pela Universidade da Beira Interior e Licenciada em Psicologia pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, desenvolveu, ao longo dos anos, a sua atividade em contexto hospitalar, agrupamentos de escolas e colégios privados, empresas privadas de prestação de serviços de saúde, centros médicos e clínicas.

Em 2017, abriu o Centro Catarina Lucas, do qual é diretora clínica e onde conta com uma equipa multidisciplinar altamente especializada e diferenciada em várias áreas da psicologia, psiquiatria e do desenvolvimento humano. O foco é a promoção da saúde mental.

Autora de vários livros para profissionais da área da Psicologia e para o público em geral, Catarina Lucas tem-se dedicado à investigação e intervenção nas áreas de terapia de casal, sexologia, aconselhamento parental, ansiedade e pânico, depressão, distúrbios alimentares, psicologia da infância e da adolescência, entre outros.

É Professora no ISEIT – Instituto Piaget de Almada, no curso de licenciatura em Psicologia e Membro Associado da Sociedade Portuguesa De Terapia Cognitiva, Comportamental e Integrativa. É, também, formadora em diversas áreas, desde o mercado empresarial até à prestação de cuidados de saúde, geriátricos e infantis.

Livros publicados:

  • Ansiedade e Pânico, Guia Prático de Intervenção (Catarina Lucas, Clémence Freitas) – 2017
  • Perturbações do Comportamento Alimentar (Catarina Lucas, Maria Isabel Monteiro) – 2012
  • Perturbação Obsessivo-Compulsiva, Manual de Intervenção (Catarina Lucas, Maria Isabel Monteiro) – 2011
  • Ciúme e Sexualidade, uma Compreensão Científica (Catarina Lucas, Henrique Pereira, Graça Esgalhado) – 2012
  • Depressão, muito para além da tristeza (Catarina Lucas, Susana Ferreira) – 2014
  • Vida a Dois (Catarina Lucas) – 2020

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