Mundo

Papa Francisco afirma que líderes religiosos têm o dever de rejeitar a guerra

O papa Francisco afirmou hoje em Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos, que os líderes religiosos têm o dever de rejeitar todo o tipo de guerra e de assumir o compromisso do diálogo.

“Em nome do Deus Criador (…) deve-se condenar sem hesitação qualquer forma de violência, porque é uma grave profanação utilizar o nome de Deus para justificar o ódio e a violência contra um irmão”, afirmou o pontífice, acrescentando: “Não há violência que possa ser religiosamente justificada”.

Francisco, que se tornou no primeiro líder da Igreja Católica a pisar o solo da península arábica, berço do Islão, intervinha durante uma conferência sobre o diálogo inter-religioso, uma iniciativa patrocinada pelo Conselho de Anciãos Muçulmanos, com sede nos Emirados.

Discursando em italiano, o pontífice apelou ao fim das guerras no Médio Oriente, numa referência às “nefastas consequências” visíveis atualmente em conflitos no Iémen, na Síria, no Iraque e na Líbia, pedindo aos líderes religiosos que resistam “às inundações de violência e à desertificação do altruísmo”.

Os Emirados Árabes Unidos estão envolvidos nos conflitos no Iémen, Síria e Líbia. No caso concreto do conflito no Iémen, participam na coligação internacional liderada pela Arábia Saudita que ajuda militarmente o governo iemenita na luta contra os rebeldes Huthis, apoiados pelo Irão.

“A fraternidade humana exige de nós, como representantes das religiões do mundo, o dever de rejeitar todos os matizes de aprovação da palavra ‘guerra'”, declarou Francisco, diante de uma plateia composta por líderes de várias correntes religiosas, recordando que a palavra guerra é sinónimo de “miséria” e de “crueldade”.

“Deus está com aqueles que procuram a paz. Do céu ele abençoa cada passo que, para esse caminho, é realizado na terra”, prosseguiu.

Na intervenção, o pontífice lançou também um apelo em defesa da “liberdade religiosa”, enfatizando que tal liberdade “não se limita apenas à liberdade de culto” e que nenhuma prática religiosa deve ser “imposta”.

Nesse sentido, o pontífice pediu a todos os países do Médio Oriente que concedam “o mesmo direito à cidadania” às pessoas “de diferentes religiões”.

“Não só aqui, mas em toda a região amada e central do Médio Oriente, desejo oportunidades concretas de relacionamento: (…) sociedades onde as pessoas de várias religiões têm o mesmo direito à cidadania”, referiu.

Ainda no mesmo discurso, o papa Francisco falou diretamente para os jovens do Médio Oriente, alertando para os perigos das designadas “fake news” e das campanhas de propaganda desencadeadas em vários países árabes do Golfo.

“Os jovens, que muitas vezes são cercados por mensagens negativas e ‘fake news’, precisam de aprender a não se renderem às seduções do materialismo, do ódio e do preconceito”, declarou.

O papa Francisco chegou no domingo aos Emirados Árabes Unidos e, na terça-feira, irá celebrar uma missa classificada como histórica num grande estádio de Abu Dhabi, para a qual são esperados mais de 130.000 fiéis.

Cerca de um milhão de católicos – a maioria imigrantes asiáticos – vive nos Emirados, país cuja população é constituída por mais de 85 por cento de expatriados, e podem praticar a sua religião em oito igrejas.

Desde o início do seu pontificado, o papa já se deslocou a vários países cuja população é maioritariamente muçulmana, como o Egito, o Azerbaijão, o Bangladesh e a Turquia. Em março é esperado em Marrocos.

Em destaque

Subir