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Incêndios: Apoio psicológico só foi dado a 40% das pessoas que sentiram essa necessidade

O apoio psicológico apenas foi dado a 40 por cento das pessoas que sentiram essa necessidade na sequência dos fogos de junho e de outubro de 2017, concluiu um inquérito realizado aos afetados por esses incêndios.

O resultado surge nas conclusões do estudo de opinião realizado no âmbito da comissão de acompanhamento à população afetada pelos incêndios de 2017, na área da saúde mental, que finalizou o seu relatório final este mês e ao qual a agência Lusa teve acesso.

Dos inquiridos, apenas 17,9 por cento referiram ter necessidade de apoio psicológico.

Das pessoas que receberam apoio psicossocial, 56,9 por cento consideraram-no “suficiente, e, no que respeita à qualidade do mesmo, apenas dois dos inquiridos consideraram que não tinham sido bem atendidos”.

Dos aspetos mais positivos do apoio psicossocial, surge, em primeiro lugar, a oferta de bens, como roupa ou alimentos (43 por cento), surgindo depois o acompanhamento psicológico (11,3 por cento) e a solidariedade (10,2 por cento).

Relativamente aos aspetos negativos, as pessoas afetadas criticaram a falta de apoio (40,8 por cento), injustiças ou má distribuição (19,9 por cento) e a falta de comunicação ou informação (08,3 por cento).

Os inquiridos apontaram o serviço de saúde (38,8 por cento), domicílio (38,5 por cento) e bombeiros (36,7 por cento) como os locais onde deveria ser prestado o apoio psicossocial.

Os concelhos onde o impacto psicológico foi mais referido (23,8 por cento dos entrevistados) situam-se no grupo de Oliveira do Hospital, Arganil e Tábua (acompanhados por uma equipa de saúde mental comunitária) e no grupo de Pampilhosa da Serra, Góis, Lousã e Vila Nova de Poiares (que são “caracterizados por terem uma resposta reduzida na área da saúde mental”).

Já nos concelhos mais afetados pelo grande incêndio de 17 de junho – Pedrógão Grande, Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos -, a percentagem é muito reduzida (04 por cento), o que “sugere a importância de uma resposta de saúde mental consistente já instalada no terreno”.

O inquérito, realizado em 26 concelhos afetados pelos grandes incêndios de 2017, foi feito a mais de 700 pessoas, sendo que 08 por cento (58 inquiridos) perderam um familiar ou amigo e 5,4 por cento referiram terem sido eles próprios, amigos ou familiares vítimas de ferimentos. Foram também entrevistados bombeiros, um elemento das forças de segurança, 19 profissionais de saúde e oito profissionais de intervenção social.

Dos 08 por cento que referiram ter perdido um familiar ou amigo durante os incêndios, 63,8 por cento evidenciavam um processo normal de luto e cerca de um terço relataram reações que podem estar relacionadas com processo de luto complicado (36,2 por cento), segundo o inquérito a que a agência Lusa teve acesso.

Cerca de dois terços das 58 pessoas que experienciaram um processo de luto referiram não ter sentido necessidade de apoio psicológico, sendo que as pessoas com luto complicado sentiram uma maior necessidade deste tipo de apoio.

De acordo com o inquérito, nove das 11 pessoas que evidenciaram luto complicado receberam apoio psicossocial e todos referiram ter “sido bem ou muito bem atendidos”.

No estudo, fica também claro que os profissionais do centro de saúde tiveram um maior peso (42,1 por cento contra 09,4 por cento) no apoio nos incêndios de junho em relação aos de outubro, enquanto nestes, os familiares e amigos, bem como os municípios, tiveram um papel mais importante.

“Estas diferenças parecem estar relacionadas não só com a estrutura dos serviços de saúde locais, como com a estrutura da família e da sociedade em geral”, explica o estudo.

O inquérito também questionou 67 entidades locais, como câmaras municipais, juntas de freguesia, centros de saúde e escolas, que consideraram que deveria ter havido mais coordenação, mais locais de atendimento e menos burocracia na resposta psicossocial às pessoas afetadas pelos grandes incêndios de 2017.

As entidades apontaram ainda para a necessidade de menor demora nas consultas (23,6 por cento), melhores horários de atendimento (10,9 por cento) e melhor preparação dos profissionais (07,3 por cento).

Cinquenta e seis das 67 entidades inquiridas revelaram que os incêndios tiveram também um impacto institucional.

Mais de metade (58,9 por cento) referiu que o principal impacto sentido na sequência dos fogos foi o impacto psicológico sobre os trabalhadores e colaboradores, sendo que “algumas entidades referiram ter havido absentismo por razões de saúde mental”.

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