Froes ameaçado por negacionistas antivacina garante que não se calará
Filipe Froes tem sido alvo de ameaças de morte por negacionistas. Em causa, a covid-19 e a vacinação. Mas o pneumologista não irá calar-se. “A tirania de meia-dúzia que não sabe o que diz não pode calar quem sabe”, diz Filipe Froes.
Filipe Froes é um dos mais mediáticos especialistas que emitem opiniões sobre a covid-19. E tal como outros profissionais de saúde, está a ser ameaçado por negacionistas. Há ameaças de agressão e, em alguns casos, de morte.
O pneumologista, uma das vozes mais ouvidas na comunicação social, com pareceres fundamentados na ciência, decidiu abordar o assunto. E em entrevista à CNN enalteceu o mérito do canal em transportar o tema para a esfera pública.
“Estamos a falar em ameaças que põem em causa a minha integridade física. Ameaças físicas e também ameaças de morte”, revelou, em entrevista àquela estação televisiva.
“Recebemos muitas ameaças pelo Messenger, pelo Whatsapp, bem como nas redes sociais. As redes sociais têm o anonimato. E muitas vezes há várias pessoas que criam múltiplos perfis. Muitas vezes é o mesmo indivíduo que, através de perfis falsos, simula ser um grande número de pessoas. Mas as ameaças são repetitivas e nota-se que é o mesmo indivíduo”, destaca.
Filipe Froes faz um paralelo entre esses ataques através das redes sociais com os contactos de rua. E aí as pessoas agradecem os esclarecimentos.
“Nunca ponderei parar de comentar”, diz Froes
“Curiosamente, a abordagem na rua é de agradecimento. Assim, não podemos confundir estas pessoas (que se consideram iluminadas por terem acesso à Internet e que vivem no anonimato) com os 10 milhões de portugueses”, refere.
Mas estes episódios de agressões suscitam diferentes reações a Filipe Froes. Desde logo, a garantia de que não irá deixar de divulgar o seu conhecimento na defesa da população e na defesa da vacinação contra a covid-19.
“Nunca ponderei parar de comentar. Sou profissional de saúde e tenho responsabilidades para o meu país. Nunca na vida poderia deixar-me intimidar. Isso é o que eles pretendem. O que nós teremos de fazer não é calarmo-nos, mas responsabilizar os agressores. E ensiná-los ainda a viver em sociedade. A tirania de meia-dúzia que não sabe o que diz não pode calar quem sabe”, justifica.
“Temos de ter algumas preocupações, mas não nos podemos deixar intimidar por estas ameaças que, na prática, não representam nada. Se mudássemos o nosso comportamento seria muito pior. Seria entregar o ouro ao bandido”, completa ainda Filipe Froes.
Especialista quer agressores responsabilizados
Apesar de não se sentir intimidado, o pneumologista considera que Portugal tem de “acelerar os mecanismos de responsabilização”. Até porque “há uma impunidade e uma inconsequência que prejudica quem quer o melhor de todos nós”. “É preciso que estas coisas tenham uma consequência”, assume.
E a primeira consequência foi a apresentação de queixas nas autoridades. “Já apresentei algumas queixas. Mas como as agressões são anónimas é difícil identificar os seus remetentes. De todo o modo, não podemos ficar de braços caídos”, insiste.
Ameaças começaram com vacinação dos 12 aos 17 anos
O maior período de ameaças “coincidiu com o período de vacinação dos 12 aos 17 anos”.
“Nessa altura, houve uma grande intensidade de ameaças. A mim e aos meus colegas. Alguns deles disseram-me que isso lhes provocou algum retraimento em aparecer na comunicação social”, revela.
No entanto, o especialista não irá sair da esfera pública. Pelo contrário.
“Não nos podemos esquecer das consequências. Quando as pessoas que estão mais dentro dos assuntos deixam de falar, estamos a privar a comunidade, a sociedade e os pais das melhores opções. Bem como da melhor informação para fundamentar as suas decisões. E, neste caso, era a defesa das crianças, da família, da comunidade, para o bem coletivo”.
Filipe Froes não se intimida, mas lembra que noutros países os insultos e ameaças já passaram das redes sociais ao confronto físico. “Em Portugal, ainda não vimos o passar à prática. Mas noutros países já se passou à prática”, lembra.
E assim, “por prudência”, Filipe Froes decidiu tomar “algumas precauções”. “Deixei de frequentar alguns sítios, porque não conhecia quem é que lá estava. E passei a ter mais cuidado a atender chamada. Além disso, só aumentou a necessidade imperiosa de nós todos colaborarmos para o melhor esclarecimento da população”, explica.
O especialista insiste, assim, na “necessidade da responsabilidade desta meia-dúzia de pessoas que têm um autoconvencimento de superioridade e ignorância e que se escondem no anonimato das redes sociais”.
“Na rua, a população dirige-me agradecimentos”
“Não podemos confundir uma parte mínima com a generalidade da população. Essa, quando me encontra na rua, dirige-me agradecimentos”, conclui.
Os agressores insultam os especialistas, classificando-os como “nazis”, por defenderem a vacinação contra a covid-19. Como resultado, são alvo, através das redes sociais, de outro tipo de insultos, de ameaças à integridade física e de ameaças de morte.
Assim, alguns desses especialistas viram-se obrigados a alterar rotinas, como forma de proteção. Mas também os familiares são visados pelos negacionistas. E muitas vezes também os filhos dos visados acabam por ser vítimas de ataques.
“Nós vivemos em sociedade e temos de ter respeito uns pelos outros. Respeito e civismo são necessários para vivermos em comunidade”, disse ainda Filipe Froes.
Mas o fenómeno não é exclusivo a Portugal. Recorde-se que recentemente um estudo da revista Nature revelou que dois em cada três especialistas foram atacados. Em causa o facto de defenderem a vacinação contra a covid-19.
Em Portugal, Filipe Froes é uma das vozes mais ativas no comentário de especialistas sobre a covid-19.