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Exames a “doentes urgentíssimos” anulados na Unidade de Medicina Nuclear da Madeira

O responsável da Unidade de Medicina Nuclear do Serviço Regional de Saúde da Madeira (Sesaram), Rafael Macedo, confirmou hoje que foram anulados, hoje e na sexta-feira, exames e cirurgias a “doentes urgentíssimos”.

“Não recebi qualquer notificação do Sesaram. Hoje de manhã, quando aqui cheguei, estavam a mudar fechaduras e foram anulados os exames e o bloco operatório. Não sei o que se passa, nem a administração contacta comigo”, disse à Lusa.

“Não tenho doentes hoje e amanhã e são doentes urgentíssimos”, acrescentou.

Rafael Macedo referiu ainda que hoje tinha cinco doentes (quatro com melanoma e um com cancro da mama) e na sexta-feira seis outros doentes oncológicos com doença óssea.

O responsável entende que “o objetivo é destruir o serviço”, expulsá-lo e “possivelmente entregar” a Unidade de Medicina Nuclear à Quadrantes (clínica privada).

O coordenador da Unidade de Medicina Nuclear do Hospital Central do Funchal, afirmou na quarta-feira que o setor público tem capacidade para prestar “mais e melhor” serviço, e vincou que muitos utentes continuam a ser encaminhados para o privado.

Numa audição parlamentar na Assembleia Legislativa Regional, Rafael Macedo acusou também “alguns colegas” de “forte negligência” e de fornecerem tratamentos que “não são adequados”, apontando ainda deficiências nas fichas clínicas e no registo de doentes.

“Denunciei a situação à Ordem do Médicos relativamente às várias irregularidades”, disse aos deputados da Comissão Eventual de Inquérito ao Funcionamento da Unidade de Medicina Nuclear do Serviço de Saúde da Madeira, constituída a pedido da maioria social-democrata, na sequência uma reportagem da TVI transmitida em fevereiro.

A investigação jornalística concluiu que o Hospital do Funchal encaminhava pacientes para fazer exames de medicina nuclear numa clínica privada, enquanto a sua própria unidade, inaugurada em 2013 e certificada em 2017, estava “praticamente parada”.

Rafael Macedo reafirmou que o serviço público continua a encaminhar utentes para o serviço privado, vincando ainda que existem serviços do Sesaram que funcionam “muito mal”, nomeadamente Hemato-Oncologia, Urologia e Ortopedia.

“Alguns colegas, de facto, são negligentes”, referiu.

O coordenar da Unidade de Medicina Nuclear explicou, por outro lado, que está habilitado para fazer 63 tipos de exames, mas efetivamente executa apenas dois, pelo que só utiliza 15 por cento do seu tempo em serviço, reconhecendo, no entanto, que em 2018 apenas dois exames desses tipos foram feitos no setor privado.

Rafael Macedo precisou que, por este prisma, a Unidade de Medicina Nuclear está a funcionar a 100 por cento, tendo realizado cerca de 1.000 exames desde 2017, mas insistiu que tem capacidade para executar 2.800 por ano.

“Portugal é o país da Europa menos evoluído em termos de medicina nuclear”, considerou.

Entre 2009 e 2018, o Governo Regional da Madeira pagou 22 milhões de euros a uma clínica do grupo Joaquim Chaves Saúde para a prestação de serviços, sendo que um milhão e 550 mil euros visou a área da medicina nuclear e o restante – mais de 90 por cento – cuidados de radioterapia, um serviço de que o setor público não dispõe.

Foi este contrato que lançou suspeitas na opinião pública e motivou a constituição da Comissão Eventual de Inquérito ao Funcionamento da Unidade de Medicina Nuclear, formada por deputados do PSD, PS, CDS-PP, BE e JPP, e com um prazo máximo de funcionamento de 120 dias.

Os trabalhos da comissão prosseguem hoje com a audição do diretor clínico da Clínica de Radioncologia da Madeira, Guy Vieira, e dos diretores do Serviço de Hemato-Oncologia e Endocrinologia do Sesaram, Fernando Aveiro e Silvestre Abreu.

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