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Demência afeta 80 por cento dos idosos que estão em lares

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Estão os lares de idosos preparados para cuidar dos utentes com alterações cognitivas? A União das Misericórdias Portuguesas (UMP) acredita que não e apresentou um estudo que coloca quase 80 por cento dos idosos que vivem em lares como portadores de demência.

A investigação, realizada ao longo de dois anos e que envolveu 1503 idosos de 23 instituições, permitiu sinalizar que nove em cada dez utentes de lares de idosos apresentam alterações cognitivas que sugerem demência, com 78 por cento a ter um quadro efetivo de demência.

Só três por cento dos 1503 idosos, avaliados por psicólogos e neurologistas, não apresentaram sinais de qualquer alteração cognitiva, com oito por cento a apresentar alterações cognitivas sem sinal de demência.

Manuel Caldas de Almeida, o psiquiatra que coordenou o estudo, explicou à Lusa que o processo decorreu em duas fases. Na primeira, a sinalização os idosos foi efetuada pelos diretores técnicos e pelos responsáveis dos lares.

Foi na segunda fase, com a avaliação de seis psicólogos e duas neurologias, que os dados começaram a apresentar números mais alarmantes.

Na maioria (55 por cento) dos idosos, os sintomas iniciais de demência foram nos domínios cognitivos, com 48 por cento a manifestar também problemas na memória e 33 por cento alterou o comportamento.

A demência foi ocorrendo progressivamente em 80 por cento dos casos, manifestando-se de forma aguda em 20 por cento.

“Existe um número muito importante de pessoas com demências nos lares, e um número importante de pessoas com demência em que essa demência não é reconhecida”, salientou Caldas de Almeida, alertando que os lares não estão a prestar um bom serviço nesta área: “Não estão preparados para ter pessoas com demência”.

“Obviamente, os lares têm uma percentagem muito maior de pessoas com demência do que a sociedade em geral”, reconheceu o especialista, lembrando que a demência é uma doença que “não é provocada por uma pessoa estar em casa ou num lar”, pelo que a tão elevada percentagem de pessoas com demência nos lares tem a ver com o envelhecimento da população e com o facto de serem as pessoas mais frágeis e mais dependentes que são referenciadas.

Antes da institucionalização, 30 por cento dos idosos tinham estado num centro de dia e 30 por cento tiveram apoio domiciliário.

Os lares não estão preparados para cuidar das pessoas com demência, reconheceu o responsável da UMP pela área da saúde, que defende uma mudança de paradigma com mais formação, mudanças arquitetónicas e apoio domiciliário mais forte.

Manuel Caldas de Almeida enfatizou que não é o facto de um idoso estar num lar que provoca demência, já que se trata de uma doença crónica, mas apontou que a evolução da doença e a velocidade a que ela se faz “pode ter a ver com ambientes estimulantes”.

“Se nós tivermos lares em que as pessoas não são trabalhadas, não têm ambientes estimulantes, em que não há atividades lúdicas, atividades de estimulação, então as pessoas que têm demência podem parecer estar numa fase mais avançada, podem ficar mais lentificadas, mais tristes, podem ficar com a demência mais avançada”, explicou.

É necessária e “urgente” uma aposta em ambientes estimulantes, com neuropsicologia adaptada e onde haja profissionais competentes para que as pessoas com demência tenham melhor qualidade de vida e a doença evolua mais lentamente.

“Sabe-se que profissionais qualificados, profissionais com competência relacional para tratar as pessoas com demência, previnem em 90 por cento as reações secundárias, que são a agitação e a agressividade, as alucinações”, acrescentou o psiquiatra: “Se não fizermos isto, há muita gente a sofrer em Portugal porque estamos a prestar cuidados inadequados. Nós temos poucos recursos, mas as necessidades nesta área estão a explodir completamente”.

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