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A carta a Mariana Mortágua que se tornou viral no Facebook

Um post de uma professora, Cristina Miranda, tornou-se viral no Facebook. É uma resposta a Mariana Mortágua, deputada do Bloco de Esquerda, que tem sido o rosto da defesa do agravamento do IMI para património imobiliário de valor elevado.

Direita e Esquerda divergem na questão do aumento de imposto sobre o património imobiliário. Não é novidade. Mas há histórias de cidadãos que se colocam ao nível desta discussão política e que conseguem cativar as redes sociais. É o caso do relato de uma professora de 50 anos. Cristina Miranda conta a sua história, numa carta aberta a Mariana Mortágua.

No Facebook, Cristina Miranda, uma docente de 50 anos, decidiu em carta aberta revelar aquilo que pensa sobre as declarações da deputada do Bloco de Esquerda.

“Cara Mariana, no seguimento à sua brilhante frase “Temos de perder a vergonha e ir buscar dinheiro a quem está a acumular dinheiro”, permita-me a minha revolta nestas palavras que lhe dirijo”, começa por escrever.

O post é publicado com uma fotografia antiga, ‘legendada’ pelo próprio texto.

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“Esta sou eu com 16 anos no meu primeiro trabalho, nas férias do Liceu (não, não é Photoshop nem posei para a fotografia, estava mesmo a trabalhar!). Ganhei o meu primeiro salário, 30 contos, como operadora de empilhador numa bloqueira. Aos 17, já carregava camiões, com chuva e pó nas ventas ao volante de 1 máquina de maior porte. Com 6h de trabalho intenso, onde por vezes era preciso montar paletes (de blocos de cimento), seguia pra escola”, prossegue a docente.

A maioridade trouxe a independência: “Aos 18 já pagava as minhas contas”. E ingressa no ensino superior.

“Dava aulas durante o dia todo e seguia para o Porto, estudar à noite. Formei-me a pagar meus próprios estudos como trabalhador estudante. Comprei aos 23 anos o meu  primeiro carro sozinha (1 Super Cinco em segunda mão). Aos 28 anos construí uma casa com empréstimo bancário que paguei durante 15 anos. Aos 35, tinha já uma poupança de alguns milhares. Ao longo dos meus 50 anos, já fiquei sem emprego mas nunca sem trabalho”, prossegue.

Ao longo da sua vida, esta professora este quatro meses no fundo de desemprego, para logo de seguida “empreender”.

“Quando estive grávida deixei perplexa a funcionária da Segurança Social perante minha ignorância e não ter, por isso, requerido subsídio. É que meus pais ensinaram-me a trabalhar, não a viver à custa do Estado. Não desenvolvi essa habilidade. Porque apesar de não ter dividido como o meu pai, uma sardinha por três, cresci sem saber o que era abundância. A dar valor a tudo o que se tinha. A lutar. A fazer reservas para o futuro”, continua.

Das memórias de infância desta professora, filha de emigrantes no Canadá, porque “era preciso ‘acumular dinheiro’”, não constam passeios com os pais, “um almoço fora, férias…”.

“Os brinquedos, ainda hoje consigo lembrá-los todos. As roupas e calçado, só quando eram mesmo precisos. Vivi em casas modestas dormindo na sala. Porque era preciso “acumular dinheiro”, aos 5 anos tive de aprender a tomar conta de mim sozinha (ter babysitter é prós fracos)”.

Porque meu pai , acampado nos bosques onde cortava pinheiros, só vinha ao fim semana. Minha mãe, tinha dois empregos (era contínua e fazia limpezas), só a via à hora de almoço porque saía às 5h e chegava sempre pelas 24h. Cresci sozinha porque era preciso trabalhar arduamente para “acumular dinheiro”. Porque o meu pai não assaltou bancos. O que tinha era mesmo dele. Saiu-lhe do corpo”, continua, numa história bem contada.

Usa maiúsculas para criticar os deputados. “Por isso, vocês é que deveriam ter VERGONHA”.

“É preciso ser-se muito NULO para não saber governar sem sacar a quem faz pela vida”.

“Criar grupos de trabalho de como assaltar as poupanças e património, em vez de procurar estimular e incentivar a economia. Porque de facto, já não pagamos impostos suficientes. Saiba que os “acumuladores de dinheiro” deste país, trabalharam arduamente para o ter. Sejam grandes ou pequenos acumuladores de dinheiro”, TODOS começaram de baixo (excluo aqui, como é óbvio, os criminosos assaltantes de bancos, de património, traficantes). E consoante as suas aspirações, uns apostaram mais alto, outros menos, mas todos contribuindo para o enriquecimento da Nação”.

Mariana Mortágua é a visada, mas a mensagem segue para todos os deputados.

“E é graças a eles TODOS que a Mariana, sem mérito algum, pousa o seu rabito no Parlamento. Porque não fossem eles, não haveria salário para nenhum de vós, que a bem dizer, é um desperdício. O país não precisa de parasitas que estudam meios para conseguir roubar mais a quem os sustenta. Precisa sim de gente como nós, mais ou menos “abastados” que produz, que investe, que cria postos de trabalho”.

Cristina Miranda conclui, com um pedido de “vergonha”, no que classifica de “assalto aos abastados”, que não são mais do que classe média que lutou por salvaguardar o futuro.

A professora sugere que se comece por “tributar o património dos partidos políticos onde se inclui o vosso palacete ocupado à força depois da revolução”.

E lamenta que se tenha “chumbado o decreto sobre enriquecimento ilícito”, “permitido as subvenções vitalícias” e “fazer vista grossa à corrupção existente no setor financeiro e organismos públicos”.

Tudo para “proteger a classe que nos rouba e empobrece: a vossa.”.

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