Cultura

Tradição brasileira do Bumba meu Boi classificada património imaterial da Humanidade

O Complexo Cultural do Bumba Meu Boi do Maranhão, no Brasil, foi proclamado hoje Património Imaterial Cultural da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO).

A decisão final sobre a ratificação da classificação, que já tinha recebido o aval da comissão de peritos em novembro, foi tomada hoje, durante a 14.ª reunião anual do Comité Intergovernamental para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial da UNESCO, que decorre desde segunda-feira em Bogotá, Colômbia.

O Bumba meu Boi do Maranhão nasceu da diversidade histórica do Brasil, da mistura da cultura portuguesa presente nas festas de devoção a São João, São Pedro e São Marçal, e elementos religiosos presentes nas culturas africana e indígena.

O Bumba meu Boi do Maranhão é um evento ritualístico que ocorre três vezes por ano para marcar o nascimento, a vida e a morte. Além de dança e da música há teatro (autos), artesanato e outros elementos envolvidos na preparação e durante as celebrações.

“A celebração do boi ocorre desde a Antiguidade Clássica, começou em Creta, espalhou-se pelo Mediterrâneo e chegou ao Brasil com os portugueses. No Maranhão o [Bumba meu] Boi foi reelaborado por diferentes grupos com a participação do elemento negro, branco e indígena”, disse Kátia Bogéa, presidente do Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em entrevista à Lusa.

Entre as representações mais conhecidas do Bumba meu Boi do Maranhão está um ato (teatral) sobre um fazendeiro português que tinha uma fazenda e um touro preto.

Um casal de negros trabalhava na fazenda e a mulher, grávida, disse ao marido que desejava comer a língua do touro preferido do patrão, convencendo-o a matar o animal.

O trabalhador atendeu a esposa, mas quando o fazendeiro português procurou seu boi de estimação ele arrependeu-se e procura um ‘pajé’ (curandeiro indígena) para fazer o boi ressuscitar. Toda a história termina com uma grande festa.

“O auto do boi envolve os índios, ‘pajés’, negros, o dono da fazenda, e mostra toda esta miscigenação”, salientou Kátia Bogéa.

O Complexo Cultural do Bumba Meu Boi tornou-se hoje no sexto bem do património cultural brasileiro a ganhar o título da UNESCO.

Os anteriores foram a Arte Kusiwa – Pintura Corporal e Arte Gráfica Wajãpi (2003), o Samba de Roda no Recôncavo Baiano (2005), o Frevo: expressão artística do Carnaval de Recife (2012), o Círio de Nossa Senhora de Nazaré (2013) e a Roda de Capoeira (2014).

Além do Bumba meu Boi do Maranhão, o comité analisa a ratificação de outras 41 candidaturas a Património Cultural Imaterial da UNESCO.

Reunido pela primeira vez na América Latina, este Comité Intergovernamental é atualmente composto por representantes da Arménia, Áustria, Azerbaijão, Camarões, China, Chipre, Colômbia, Cuba, Djibuti, Filipinas, Guatemala, Jamaica, Japão, Cazaquistão, Kuwait, Líbano, Maurícias, Holanda, Palestina, Polónia, Senegal, Sri Lanka, Togo e Zâmbia, sendo as decisões tomadas por unanimidade destes membros.

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