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“Tapar a realidade não ajuda a que ela se resolva”, avisam médicos de saúde pública

O presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública (ANMSP) responsabiliza a tutela pela falta de meios no terreno para combater a covid-19, acrescentando que tal dura… desde o início da pandemia.

“É exasperante andar há tanto tempo a denunciar a falta de condições de trabalho, de estratégias e de coordenação, para se atacar a doença no terreno, e a resposta ser nula”, desabafou Ricardo Mexia, presidente da ANMSP, epidemiologista e médico de saúde pública, em entrevista ao Diário de Notícias.

Ricardo Mexia salientou que “há poucas diferenças em relação às necessidades que havia em março”, quando a pandemia chegou a Portugal, e avançou com o exemplo da linha SNS 24, sobre a qual deixou de haver informação a partir de 9 de março, quando atingiu “uma situação de rotura”.

Agora, parte do país debate a eventual obrigatoriedade de instalação da aplicação Stayaway Covid.

“Andamos a perder tempo com uma aplicação para o telemóvel e com a informação que não foi validade pelas ARS”, reforçou o epidemiologista.

A relação dos médicos de saúde pública com as Autoridades Regionais de Saúde é outro dos problemas apontados pelo presidente da ANMSP.

“Há situações em que tem de se atuar de imediato e que é exigido aos médicos que isso seja validado em dois ou três níveis diferentes”, afirmou.

Como exemplo, citou “a situação de forte transmissão comunitária em Paços de Ferreira”, registada há dias.

“Os colegas fizeram um comunicado de alerta à população e travaram a situação. E estão a ter problemas com a ARS Norte por terem feito o comunicado e por este não ter sido validado pela ARS. Isto quer dizer que estamos mais preocupados em não dar informação do que em fazer chegar a informação útil às pessoas, e que pode ajudar a combater o problema”, sustentou Ricardo Mexia.

“Estamos a burocratizar um processo fazendo que a informação tenha de ser validada por níveis acima. Mas se é assim, então que criem os recursos necessários para que a resposta possa ocorrer mais rapidamente”, insistiu.

A falta de recursos continua a ser “a principal queixa” dos médicos de saúde pública, como já era “no início da pandemia”.

“As pessoas que estão no terreno não têm mãos a medir para fazerem todos os contactos que têm de fazer e quebrar as cadeias de transmissão. Esta é uma prioridade e não há pessoas suficientes para o fazer, mas também não há linhas telefónicas suficientes, como não há um sistema de informação que seja ágil e que responda às suas necessidades”, concluiu.

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