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Rio Pavia já não é “esgoto a céu aberto” em Viseu, mas preocupações continuam

Os tempos em que era considerado um “esgoto a céu aberto” já passaram, mas ainda hoje o Rio Pavia, que atravessa a cidade de Viseu, tem problemas devido ao caudal reduzido, cuja solução divide executivo camarário e oposição.

A vice-presidente da Câmara de Viseu, Conceição Azevedo (PSD), recorda-se de o pai contar histórias da época em que o rio tinha barcos.

“Hoje, isso seria impossível, porque é mais um ribeiro do que um rio. No verão, praticamente não tem água”, afirmou à agência Lusa, acrescentando não saber ao certo qual o caudal, porque não há medidor.

Também o vereador socialista Pedro Baila Antunes ouviu relatos dos tempos em que a relação da população de Viseu com o rio era bem diferente da atual: lavava-se roupa, havia barcos e atividades balneares e pescava-se trutas.

No entanto, a partir de meados do século XX, a cidade começou a ficar de costas voltadas para o Pavia, havendo até um sentimento de nojo, devido ao seu caudal reduzido e à descarga direta de águas residuais urbanas.

“O programa Polis foi muito bom em termos de reabilitação ambiental, um dos seus esteios era precisamente o Rio Pavia e a sua envolvente. Foram desviadas muitas das descargas de poluição, numa intervenção a sério ao nível de coletores paralelos ao rio, e foram implantados alguns parques urbanos”, recordou.

Na opinião de Pedro Baila Antunes, “a qualidade melhorou substancialmente, mas está longe de ser boa, tão pouco excelente”, verificando-se ainda “descargas ilegais para a rede de drenagem de águas pluviais”, que são “culpa dos proprietários, mas que a autarquia devia fiscalizar”.

“Há águas pluviais da cidade que vão diretamente para o esgoto, em vez de irem para a rede de águas pluviais. A água é muita quando chove, não há capacidade de drenagem para a ETAR (Estação de Tratamento de Águas Residuais) e descarrega para o rio”, acrescentou.

O vereador socialista contou à Lusa que “as pessoas sentem o odor nalgumas alturas do ano” e veem “a turvação da água”, sendo que o rio “praticamente não tem peixes”.

Conceição Azevedo garantiu que “o Pavia não é um rio poluído, não recebe descargas de esgotos”, apesar de volta e meia este ser um tema que salta para as páginas dos jornais.

“O problema é a falta de água”, argumentou.

Com uma extensão de cerca de 39 quilómetros, o Rio Pavia nasce na freguesia do Mundão, no concelho de Viseu, e desagua no Rio Dão, na freguesia de Ferreirós do Dão, no concelho de Tondela.

“O rio tem um nascente mas que, no verão, praticamente não o alimenta nada”, frisou, lembrando que, no verão passado, devido a uma fissura junto ao açude da ribeira, numa zona onde o leito é de betão, “a água escapou-se toda” e teve de ser “injetada água de poços à volta” para refazer o caudal.

Convencida de que um rio é um ponto de atração nas cidades e de que, cada vez mais, os munícipes valorizam espaços onde podem estar em contacto com a natureza, a autarquia quer estabilizar o caudal do Pavia, no âmbito de um projeto mais abrangente que visa reaproveitar a água saída da ETAR Viseu Sul.

O executivo está a preparar uma candidatura aos fundos comunitários, devendo o projeto custar mais de seis milhões de euros.

“Sai muita água da ETAR. São 14 mil metros cúbicos por dia que são injetados no rio e acabam por ir em direção a Tondela”, contou Conceição Azevedo, realçando que, com o projeto, esta água poderá ser aproveitada para combate a incêndios, limpeza urbana e reforço do caudal do Rio Pavia.

Segundo a vice-presidente, o projeto passa pela construção de dois reservatórios, um num ponto mais baixo e outro num ponto mais alto, um sistema elevatório, uma rede de distribuição e um sistema adutor para secções do rio.

“A água estaria represada no reservatório do ponto mais alto e, quando houvesse necessidade, por gravidade, acabava por ser lançada no rio”, explicou.

Para a oposição, este projeto não faz sentido, porque “é uma obra cara” e, “em termos de energia, fica caríssimo” levar a água da ETAR até ao reservatório.

“Há outras soluções mais sustentáveis, nomeadamente a requalificação dos açudes, a recirculação da água dentro da cidade, o aproveitamento da água da chuva que pode ficar armazenada ou diretamente no rio ou ao longo da cidade nos coletores das águas pluviais e dos excedentes das águas subterrâneas”, defendeu Pedro Baila Antunes.

Estas são algumas das medidas defendidas pelo PS num Plano de Ação para a Revitalização Ecológica e Urbana do Rio Pavia, que foi apresentado na reunião de Câmara de 05 de setembro e chumbado pela maioria social-democrata, com o argumento de que era “um conjunto de banalidades e lugares comuns”.

Pedro Baila Antunes explicou que, ao haver mais água no rio, consequentemente haveria mais qualidade, podendo ser feita uma renaturalização com trutas e espécies vegetais.

“Tendo a reabilitação ecológica, poderíamos então trazer as pessoas para o rio, para as suas margens”, frisou.

Oslo, na Noruega, é, na sua opinião, um exemplo que Viseu – conhecida como a cidade jardim e que já mereceu algumas distinções ao nível do ambiente e da qualidade de vida – devia seguir.

Isto porque o Rio Aker, que tem “um caudal pouco superior ao Rio Pavia”, assume hoje um importante papel na vida da cidade, depois de uma grande intervenção de revitalização, acrescentou.

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