Padre critica Segurança Social pela retirada “desumana e quase selvagem” de utentes
O encerramento da Casa do Calvário, em Beire, no concelho de Paredes, levou o padre Júlio Pereira a tecer fortes críticas à atuação “desumana” e “quase selvagem” da Segurança Social.
O diretor da instituição, que integra a Casa do Gaiato, apontou o “sofrimento” dos utentes que foram retirados e encaminhados para outras instituições.
“Não há justificação nenhuma para esta atitude e não concordamos com ela”, começou por referir, em declarações à Lusa.
O padre salientou que são “os doentes” da Casa do Calvário quem mais sofrem com o encerramento da unidade, realizado ontem ao final da tarde pela Segurança Social.
“Aquilo que preocupa é que eles sofrem com esta retirada perfeitamente desumana que lhes fizeram. Depois de tantos anos nesta comunidade, para onde alguns vieram ainda muito novos com doenças crónicas, retirá-los assim, desta forma quase selvagem, causa sofrimento”, insistiu.
Júlio Pereira condenou a Segurança Social por não ter “justificação” para mandar encerrar a Casa do Calvário, que aconteceu após uma ação de fiscalização ter concluído pela não existência de condições de funcionamento.
“Não tem qualquer fundamento essa afirmação. A nossa Casa do Calvário tem todas as condições para funcionar, como já funciona há 60 anos”, reiterou.
Só que o modelo da Casa do Gaiato “não é o da Segurança Social”, salientou o padre.
“Querem encaixar-nos à força no modelo da Segurança Social. Nós não encaixamos num modelo que não é o nosso, que tem todas as virtudes para realizar a sua missão”, sustentou.
“Temos doentes connosco há mais de 40 anos, alguns vieram em condições péssimas e nunca ninguém quis saber”, acrescentou o responsável.
O padre criticou ainda a Segurança Social por executar a retirada dos utentes sem apresentar documentos e sem a presença da polícia.
“Eles começaram a levar os primeiros doentes e o que é certo é que a polícia nunca apareceu. A partir desse momento, eu disse que não levavam mais doentes até trazerem um documento ou a polícia a atestar a autoridade para fazerem isto”, salientou.
Foram retirados 42 dos 50 utentes da Casa do Calvário.
A Lusa solicitou mais esclarecimentos ao Instituto da Segurança Social, aguardando a resposta.