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“Os descobridores do nosso tempo”

Texto: Gabriel Albuquerque

Outrora, Luís de Camões apelidou o povo português como “o Povo que deu novos mundos ao Mundo”. Tal expressão referia-se aos marinheiros quinhentistas que imprevisivelmente se lançaram ao mar tormentoso em frágeis embarcações. Estas, bastante vulneráveis, viravam-se à menor tempestade.

Coragem, determinação, ambição, lealdade, nenhum destes predicados consegue descrever na perfeição o que levou estes sobreviventes da peste negra a partirem em busca do desconhecido. Talvez uma junção de todas estas características nos aproxime um pouco mais de um marinheiro português do século XV.

Porém, a meu ver, a palavra-chave de tal empresa é sem dúvida dificuldade. Foi a dificuldade económico-social que se sentia em Portugal depois da crise de sucessão que fez estes homens partir, foram as dificuldades do caminho que deram alento aos marinheiros para continuar, foi a dificuldade de se despedirem das famílias que lhes apressou a partida, foram as dificuldades sentidas no quotidiano que os fizeram procurar soluções e partir em nome de Portugal!

Tal como no passado, hoje também nós, portugueses, vivemos a dificuldade: as famílias que vivem com os pais desempregados passam dificuldades, as famílias que vivem com um rendimento mínimo passam dificuldades, as crianças que vivem com uma refeição por dia passam dificuldades.

No entanto, apesar de todos os fatores que indicavam o contrário, no século XV prevaleceu o ditado e depois da tormenta veio a bonança. Agora, no século XXI, devemos olhar para os exemplos que a nossa própria história nos deu, para deles retirarmos ilações e para que assim possamos, como no passado, reerguermo-nos dos escombros em que nos encontrávamos.

Movidos pela esperança de deixar aos nossos filhos um país melhor do que aquele que encontrámos, vamos aproximando-nos da saída de um poço que ainda há poucos anos ninguém diria ser possível abandonar. É graças ao esforço colectivo de toda a nação que hoje podemos encarar o futuro de uma forma optimista, sabendo que as dificuldades e o sofrimento pelos quais passámos não foram em vão. Já outrora, Alexis Tocqueville, apercebendo-se das dificuldades da governação, sabiamente proferiu:

“No mundo, apenas a religião e o patriotismo podem fazer caminhar por muito tempo e para o mesmo fim a maioria dos cidadãos.”

É acreditando que este é o melhor caminho para Portugal que se apela à paixão pela pátria que está dentro de cada português. Só com todos a remar para o mesmo lado conseguiremos fazer com que o “barco da nação” atravesse a tempestade e alcance a bonança.

Apesar dos grandes progressos feitos nesta nossa travessia, o esforço ainda não acabou. No entanto, da mesma maneira que os portugueses de há quinhentos anos ficaram imortalizados nos Lusíadas de Camões, também estas famílias mereciam uma epopeia pelos sacrifícios que fazem em prol de um bem maior, a recuperação e dignificação do nosso Portugal!

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