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Negacionista finge lesão para ser atendido nos cuidados intensivos para tentar provar teoria antimáscara

O homem que dá a cara pelo grupo ‘Jornalistas Pela Verdade’ viajou para a Suécia, com a finalidade de provar que aquele país é seguro, sem medidas de prevenção como o uso da máscara. O português acaba a filmar sem permissão o interior de um hospital pediátrico e a simular uma lesão para ser atendido por pessoal médico. Veja o vídeo.

A Suécia, que começou por adotar uma estratégia menos estrita do que a maioria dos países europeus para combater a covid-19, anunciou nesta segunda-feira que irá adotar algumas restrições, para conter a pandemia. Entre essas medidas está, por exemplo, a limitação de reuniões públicas a um máximo de oito pessoas.

O primeiro-ministro sueco, Stefan Löfven, realizou uma conferência de imprensa, na passada segunda-feira, a esclarecer que o quadro é complicado e que irá agravar-se.

“A situação no nosso país é complicada e, ao mesmo tempo, simples: vivemos um tempo de provações. E vai piorar. Cumpra o seu dever, assuma a sua responsabilidade para impedir a propagação. Não vá ao ginásio, nem à biblioteca, nem a jantares ou a festas. Fique em casa”, referiu Löfven.

Esta é uma mudança de paradigma de um país que começou a lidar com a pandemia sem grandes restrições. E essa falsa ideia das poucas restrições na Suécia com bons resultados vem sendo usada pelos negacionistas, para reforçar a tese de que, por exemplo, o uso da máscara é dispensável – uma ideia errada e que a ciência já tratou de o demonstrar.

O homem que dá a cara pelos ‘Jornalistas Pela Verdade’ (página que se encontra suspensa pelo Facebook, impedida de fazer novas publicações durante um mês, por propagar informações falsas) decidiu viajar para Estocolmo, com o objetivo de provar a sua teoria.

Num direto que fez no Facebook, a partir da conta pessoal, uma vez que não pode publicar na página ‘Jornalistas Pela Verdade’, Sérgio Tavares propõe-se a simular uma lesão, para conseguir entrar numa urgência.

“Viemos a este hospital e vamos entrar e filmar as urgências, para ver como é o ambiente dentro do hospital. Se for preciso, eu vou simular uma lesão”, diz no vídeo, que transmitiu em direto nas redes sociais.

E a verdade é que comete uma série de gafes. Diz que falta vigilância à entrada de uma unidade de cuidados intensivos, quando, na verdade, a entrada ao espaço está pura e simplesmente vedada.

Ao mesmo tempo, contraria as próprias imagens, porque os cidadãos que filma cumprem o distanciamento social.

Depois, entra por engano num hospital pediátrico e filma, sem permissão, o interior do local.

Sérgio Tavares não é jornalista, mas, mesmo que estivesse legitimado para fazer reportagem, estaria a cometer uma série de falhas deontológicas.

Pretendia entrar numa unidade de cuidados intensivos, que naturalmente está fechada: “Eu vou tentar entrar, tentar infiltrar-me e filmar a ala dos cuidados intensivos, sem ninguém ver. Eu só espero é que não nos apanhem a filmar”.

Depois de entrar em contacto, a partir da zona exterior, com profissionais de saúde, finge a lesão.

“Isto é uma urgência. Eu magoei-me no meu joelho. Eu já tinha uma lesão no joelho, mas hoje caí das escalas e sinto muitas dores”, diz.

Apresenta-se como turista, sem quaisquer outros problemas de saúde. E é informado de que aquela unidade não atende ferimentos simples e que só pacientes que necessitem de cuidados intensivos podem entrar.

Insistindo na teoria de que “toda a gente está sem máscara”, medida de contenção que ainda não foi determinada, o homem difunde uma falsa informação, ao dizer que o distanciamento social não faz parte das medidas de controlo da pandemia na Suécia.

Mais: o país está a preparar-se para enfrentar a segunda vaga. Ontem, a Suécia registou 6243 novos casos, o segundo valor mais alto desde o início da pandemia. E no passado dia 13 de novembro registou o valor mais alto de sempre: mais 6737 novos casos em 24 horas.

A Suécia, que também tem cerca de 10 milhões de habitantes, registou 6406 mortos por covid-19, desde o início da pandemia. Mais do que os 3762 que se contabilizam em Portugal, segundo dados oficiais divulgados hoje no boletim epidemiológico da Direção-Geral da Saúde.

Não obstante estar a atravessar uma fase de menos mortalidade, nesta altura, em comparação com Portugal, a Suécia chegou a registar dias consecutivos com mais de 100 vítimas mortais, no pior período da pandemia, naquele país.

Sérgio Tavares termina o vídeo com a seguinte frase:

“Nós vamos continuar a nossa missão impossível. Vamos ter que mostrar esta malta [doentes] dentro das camas”.

Veja o vídeo:

https://www.facebook.com/dias.joelngnigg/videos/1558257164365903

Depois da primavera, e numa análise a países da Escandinávia, a Suécia registou cinco vezes mais óbitos do que a Dinamarca e 10 vezes mais do que a Noruega.

Durante o verão, a pandemia deu tréguas ao país, mas nas últimas semanas regista-se uma média de 511,9 novos casos por cada 100 mil habitantes, segundo dados do Centro Europeu e Controlo de Doenças.

Aquele número representa o dobro dos índices de Dinamarca e é superior ao que se verifica em muitos países europeus.

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