Cultura

Uma “Mochila” junta sete jovens de Matosinhos no Teatro Constantino Nery

A peça “Mochila”, que junta sete jovens de Matosinhos num exercício teatral de cocriação com encenação de Gonçalo Amorim, estreia–se na sexta–feira, no Teatro Municipal Constantino Nery, sendo produzida pelo Teatro Experimental do Porto (TEP).

Vindo da rua, o grupo começa imediatamente a interagir com o público e fá-lo praticamente ininterruptamente até ao final, misturando-se o que é o palco e quem faz parte da plateia. Sussurram-se sete histórias diferentes, mas todas sobre o mesmo protagonista: Moche, o amigo que usava mochila branca e desapareceu no caminho entre o ensaio e a casa.

Já no interior da sala – num espaço habitualmente reservado a cadeiras, mas que, estando estas recolhidas e estando dispersos os elementos de cena, convida o público a sentar-se no chão, encostar-se à parede ou apoiar-se nos móveis que compõem o cenário – Rita, Bernardo, Carolina, Inês, Hugo, Beatriz e Paola não desistem de procurar o amigo.

“O Moche é assim um ‘bad boy’, alguém que domina o grupo, com o qual todos têm histórias diferentes”, conta aos jornalistas, após o ensaio de imprensa, que decorreu esta tarde, Bernardo Lourenço, 17 anos, aluno da Secundária Augusto Gomes, concelho de Matosinhos.

Mas o Moche, personagem central da peça, que só vem a revelar-se no fim, continua desaparecido, levando os amigos a tomar poções que lhes ativam os sentidos de forma a conseguirem seguir-lhe o rasto.

Há quem fique com a visão tão apurada ao ponto de conseguir vislumbrar o estreito de Gibraltar e quem sinta o odor de urina de ratazana e todos, graças à porção do tato, sentem a grossura de teias de aranha.

“O Moche representa algo de transcendente. É uma espécie de amigo imaginário”, descreve, por sua vez, o encenador, Gonçalo Amorim.

Entretanto, num emaranhado de sons, texturas, cheiros e visões – faltando o paladar, mas esse ficou por terra à entrada – das histórias, as personagens passam aos objetos pessoais, e o futuro do Moche é revelado: afinal o ‘bad boy’ casou-se e tem quatro filhos.

“Este é um espetáculo pensado para jovens que estão num momento de procura interior. Há um diálogo e uma tensão constante entre o que sou, o aqui e agora, e o que quero fazer”, descreve Gonçalo Amorim.

É exatamente o que se passa com Bernardo Lourenço que, depois dos três dias, de “Mochila” (a peça estará em cena no Constantino Nery de sexta a domingo), completa 18 anos, entrando, como disse, na “idade adulta”.

“Decidi integrar este projeto porque estou a decidir o que fazer quando sair da escola, o que fazer no futuro. Isto é sobre nós, sobre jovens que procuram encontrar-se. É sobre a passagem de jovens a adultos”, conta Bernardo Lourenço, o mais velho num grupo cuja mais nova, Rita, tem 14 anos.

Os sete jovens que integram “Mochila” foram escolhidos após uma audição que inicialmente teve entre 20 e 25 candidatos.

Segundo Gonçalo Amorim, além da triagem natural, foi determinante a resposta afirmativa e convicta à pergunta “Quem é que se quer comprometer com um projeto exigente?”. Seguiram-se três meses de ensaios.

No “palco”, somam-se aos sete jovens de Matosinhos, três músicos.

A produção é do TEP, companhia precursora do teatro moderno, que estreou a sua primeira peça em 1953, e a representação ultrapassa uma hora de duração, estando o espaço limitado a cerca de 80 espetadores.

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