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Jornal de Angola acusa “elites portuguesas” de “inveja” e “banditismo”

jornal angolaDuro editorial no Jornal de Angola contra as “elites portuguesas” – em seguimento da notícia do Expresso sobre um inquérito-crime da Procuradoria-Geral da República, que recai sobre altas figuras do Estado angolano – deixa no ar um choque diplomático. “A inveja alimentou em Portugal o ódio contra Angola todos estes anos de Independência Nacional”, pode ler-se.

A notícia de uma investigação por alegada fraude fiscal e branqueamento de capitais, que recai sobre três figuras do Estado angolano provocou uma reação dura, assinada num editorial do Jornal de Angola, órgão estatal.

Em causa estão pessoas próximas do Presidente José Eduardo dos Santos. Segundo o Público, a investigação recai sobre o vice-presidente de Angola, Manuel Vicente; o ministro de Estado, Hélder Vieira Dias; e o consultor do ministro de Estado, general Leopoldino Nascimento.

A investigação terá sustentação em “indícios suficientes para um processo-crime”, ainda que nenhum dos três visados tenha sido constituído arguido. “Uma análise financeira a diversas transferências e depósitos bancários efectuados em Portugal” deu origem ao caso.

Em Angola, esta notícia caiu como uma bomba. Há perspetivas de um choque diplomático entre os dois países. E a reação angolana surgiu assinada pelo diretor do Jornal de Angola, que num editorial com título “Jogos Perigosos” acusa as elites portuguesas de “inveja”, citando Camões.

“O mais universal dos poetas de língua portuguesa (…) deixou, seguramente por querer, a marca das elites nacionais que o desprezaram e atiraram para a mais humilhante pobreza. O seu poema épico acaba com a palavra Inveja. Desde então, mais do que uma palavra, esse é o estado de espírito das elites portuguesas”, pode ler-se, no editorial do Jornal de Angola.

Este processo judicial é visto como mais um sinal da “inveja” que “alimentou em Portugal o ódio contra Angola todos estes anos de Independência Nacional”.

“Inveja foi o combustível que alimentou os beneficiários da guerra colonial. Inveja foi o estado de alma de Mário Soares quando entrou na reunião do Conselho da Revolução, que discutia o reconhecimento do novo país chamado Angola, na madrugada de 10 para 11 de Novembro de 1975. Roído de inveja e de cabeça perdida porque a CIA não conseguiu fazer com êxito o seu trabalho sujo contra Angola, disse aos conselheiros, Capitães de Abril: não vale a pena reconhecerem o regime de Agostinho Neto porque Holden Roberto e as suas tropas já entraram em Luanda. Uma mentira ditada pela inveja e a vã cobiça”, prossegue o editorial polémico.

A atual crise portuguesa é considerada para atacar Portugal. E até Merkel é chamada ao assunto, sendo que Portugal é acusado de ingratidão. “Os invejosos e ingratos para com quem os quer ajudar estão gastos de tanto odiar. Que o diga a chanceler Angela Merkel, que ajudou a salvar Portugal da bancarrota, mas é todos os dias insultada”, refere o editorial.

As “elites políticas portuguesas odeiam Angola”, realça o artigo, considerando que “os políticos angolanos democraticamente eleitos” são atacados. “Esse banditismo político tem banca em jornais que são referência apenas por fazerem manchetes de notícias falsas ou simplesmente inventadas”, lê-se.

“Em Portugal, a nova Procuradora-Geral da República foi a Belém onde deve ter explicado a Cavaco Silva as informações que no mesmo dia saíram na SIC Notícias e no Expresso, jornal oficial do PSD, que fizeram manchetes insultuosas e difamatórias”, realça o editorial.

O Jornal de Angola fala ainda em “campanha contra Angola”, que “partiu do poder ao mais alto nível”. E a Procuradoria-Geral da República é acusada de “consentir o crime”, por permanecer calada.

Mas não são feitas apenas acusações. É um diferendo diplomático que está em causa: “As relações entre Angola e Portugal são prejudicadas quando se age com tamanha deslealdade. A cooperação é torpedeada quando um ramo mafioso da Maçonaria em Portugal, que amamentou Savimbi e acalenta o lixo político que existe entre nós, hoje determina publicamente o sentido das nossas relações, destilando ódio e inveja contra os angolanos de bem”.

Portugal é acusado ainda de “encher os bornais de dinheiro, à custa de Angola” e de “comer à custa da Alemanha”. É acusado de “conspirar e ofender angolanos e alemães, usando a sua máquina mediática”.

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