Nas Notícias

Herrar é umano!

Emanuel Bandeira

Diz o ditado que “herrar é umano”. Ou, por outras palavras, que ninguém está isento de errar.

Que o diga o ministro do Ensino Superior, já que na discussão do Orçamento de Estado (OE) proferiu a célebre frase: “Tenhemos a humildade de perceber os números”.

Diz-se “tenhamos” mas, gaffe à parte, estou de acordo: é preciso humildade para perceber os números. É um conselho válido e muito útil para vários dos seus colegas, especialmente para o ministro da Educação, Tiago Rodrigues.

É que Tiago Rodrigues foi ao Parlamento afirmar que no OE-2016 há mais dinheiro para a Educação do que em 2015. Parecem boas notícias. Só há um problema: onde o ministro diz que há um aumento, o Orçamento do (seu) Governo diz que há uma redução. Em concreto, onde o ministro vê que um acréscimo de 303 milhões, o Orçamento prevê um corte de 82 milhões.

Aparentemente Tiago Rodrigues errou nos números. E eu, solidário com o ministro, aparentemente errei ao escrever o título deste texto. Só que o meu ‘erro’ é aparente, porque não foi um erro, foi propositado. E quando é propositado não é um erro. O mesmo é válido para Tiago Rodrigues.

Na verdade ele também não errou quando disse que a verba da Educação ia aumentar (apesar de ela ir comprovadamente diminuir), pois errar pressupõe descuido ou ignorância. Quando é propositado já não é errar, é ludibriar. E no caso de Tiago Rodrigues o ‘erro’ foi propositado.

Para enganar os portugueses, o ministro preferiu comparar o valor da verba para Educação do OE 2016 com o valor inicialmente previsto para Educação em 2015, e não – como deveria ter feito – com o valorefectivamente gasto em 2015. Em vez de usar números definitivos, preferiu usar números provisórios. E, diga-se, ilusórios. Porque lhe convinha.

Convenhamos que se se tratasse de um erro ou lapso tal seria, porventura, desculpável. Mas o que aconteceu não foi um erro mas sim uma intenção, consciente e deliberada, de mascarar números para fins políticos. O ministro pode ser inexperiente nas lides políticas, mas já aprendeu a velha jogada do “quando os preconceitos não encaixam nos números, mascaram-se os números para encaixar nos preconceitos”.

É a demagogia e o populismo no seu expoente máximo. Venha de quem vier, fantasiar números para ludibriar pessoas e obter ganhos não é política. É politiquice! E é também uma forma de liquidar o (já pouco) respeito que os eleitores têm pelos eleitos.

Depois de tudo isto, talvez não fosse má ideia o ministro da Educação recordar o conselho do seu congénere do Ensino Superior e ter a “humildade de perceber os números”. E, acima de tudo – acrescento eu – a honestidade de não deturpar esses números. E já agora, se não fosse pedir muito, a hombridade de não usar esses números para passar um atestado de imbecilidade aos portugueses.

É que (h)errar perante os portugueses é (h)umano; enganar os portugueses é imperdoável…

Em destaque

Subir