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“Falta de confiança” não é razão, segundo Cavaco, para dissolver Assembleia

cavaco silva27062011Em entrevista à RTP, o Presidente da República disse que não encontra razões para fazer cair o Governo. Cavaco Silva entende que virão dias piores se houver uma renegociação da dívida, porque essa medida representa um sinal de falha das políticas. Sobre as críticas de que tem sido alvo, o chefe de Estado lembrou que “não governa” nem tão-pouco é “corresponsável pelas políticas do Governo”.

O Presidente da República concedeu ontem uma entrevista no programa ‘Prós e Contras’ da RTP, onde abordou a realidade política, respondendo à principal crítica de que tem sido alvo: o facto de não demitir um Governo que a oposição considera estar esgotado.

Para Cavaco Silva, lançar a “bomba atómica” a demitir o executivo de Passos Coelho seria um erro, com efeitos negativos sobre Portugal. O Presidente da República disse que fez uma “análise cuidada e profunda” sobre a questão e que chega “sempre à mesma conclusão”: não quer juntar uma crise política a uma crise económica.

“Se tivéssemos uma crise política em Portugal, na situação que nos encontramos, os portugueses ficariam numa situação muito pior”, defendeu Cavaco Silva, justificando o facto de estar a tentar a todo o custo evitar ser um fator desestabilizador.

E o facto de não tomar esta medida tem custado ao chefe de Estado muitas críticas de inércia. Cavaco Silva lembra que o Presidente da República não tem a seu cargo a missão de governar o País, nem deve ser responsabilizado pelos efeitos de qualquer governação. “O Presidente da República não governa. E não é responsável, nem tão-pouco é corresponsável pelas políticas do Governo”, afirmou Cavaco, nesta entrevista à jornalista Fátima Campos Ferreira.

Por outro lado, acrescenta Cavaco, “o Governo não responde politicamente perante o Presidente da República”, sendo que uma suposta falta de confiança do chefe de Estado “não é razão suficiente” para Cavaco dissolver a Assembleia da República. Cavaco entende que só em situações muito específicas poderá o Presidente lançar a ‘bomba atómica’ e convocar eleições antecipadas.

A renegociação da dívida não deve ser considerada pelo executivo, segundo Cavaco, sendo que, se Portugal tiver de renegociar a sua dívida “é porque as coisas correram mal ao nosso país”. Esse cenário seria muito negativo. “Eu não tenho dúvidas de que nós passaremos dias piores do que aqueles que estamos a passar neste momento”, defendeu Cavaco Silva.

Nesta entrevista, Cavaco tocou na questão do desemprego e do aumento do risco de pobreza, em resultado das medidas de austeridade que o Governo tem aplicado e que estão inscritas no memorando. No entanto, lembra o Presidente da República, “Portugal mantém a coesão social” e não há riscos de “desestruturação ou fragmentação social”.

Cavaco elogia o “grande sentido de responsabilidade” dos portugueses, no que se afigura como um recado à oposição que pede eleições antecipadas – desde logo o PS, de António José Seguro, bem como toda a esquerda. O chefe de Estado considera que o Governo deve lutar por esta coesão nacional: “É fundamental que os sacrifícios sejam melhor distribuídos”.

Com uma imagem austera, o Presidente da República deixou bem claro que não está de acordo com a oposição. Cavaco tentou transmitir a ideia de que este facto não representa que esteja do lado do Governo.

Cavaco está centrado no período pós-troika e sustentou que eleições antecipadas não trariam nada de benéfico para um país que não pode viver uma crise política que traga mais turbulência.

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