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Crioestaminal cria anúncio “vergonhoso” sobre células estaminais que tem “falsidades”

crianca_hospitalUm anúncio da Crioestaminal sobre a preservação de células estaminais, intitulado ‘O futuro guarda muitos milagres’, suscitou críticas do obstetra Miguel Oliveira da Silva, presidente do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (CNECV), que revela ao Expresso que se trata de “uma campanha vergonhosa”, que transmite “falsidades científicas” e que pretende explocar o “sentimento dos pais”.

A Crioestaminal está a levar a cabo uma campanha que promove a preservação de células estaminais, recolhidas através do cordão umbilical. No anúncio, realizado em ambiente hospitalar, com uma criança sentada numa marquesa, surge a pergunta, colocada pela própria criança: “Mãe, pai, guardaram as minhas células estaminais?”.

“Há uma hipótese em 200 de um dia ser diagnosticada no seu filho uma doença cujo tratamento pode ser encontrado nas suas células estaminais, ou nas de um irmão”, refere o anúncio televisivo. Entre essas doenças, são apontadas a “leucemia, tumores sólidos e o linfoma”.

Em declarações ao Expresso, Miguel Oliveira da Silva, que é também presidente do CNECV, considera que o anúncio da Crioestaminal é uma tentativa de apelar ao “sentimento dos pais”, de uma forma que, de acordo com o clínico, apresenta “falsidades”.

“É uma campanha vergonhosa”, acusa o obstetra, que não só critica a empresa de preservação de células estaminais, como aponta o dedo “silêncio distraído do Estado”, que reparte culpas da divulgação tipo de informação falsa porque não regulamenta.

Miguel Oliveira da Silva adianta ainda ao mesmo jornal que está para breve uma ação do CNECV, para colmatar as lacunas que permitem este tipo de campanhas e que se utilizem as células estaminais para criar um negócio, com anúncios sentimentalistas que colocam sobre os ombros dos pais a ‘culpa’ de não poder ser curada uma doença, em virtude do facto de não terem preservado as células do cordão umbilical após o parto.

O obstetra considera ainda que todas as críticas feitas à campanha são legítimas. E não são poucas, mesmo no espaço do Facebook da Crioestaminal, onde algumas pessoas que se dizem “clientes” da empresa de preservação de células dizem que não se reveem na campanha.

A Crioestaminal alega que o objetivo da campanha era “sensibilizar”, apenas. “Era essa a nossa intenção”, refere uma nota da empresa, que assume estar consciente de que a mensagem poderia suscitar este tipo de reações.

Segundo o anúncio, “há mais de 80 doenças que podem ser tratadas” através das células estaminais do sangue do cordão umbilical. A empresa que recolhe células estaminais lembra que a sua “causa” é aumentar a quantidade de amostras de sangue do cordão umbilical, para que “mais crianças e adultos” possam “beneficiar dessa opção”.

No entanto, existe muito desconhecimento e algum aproveitamento das empresas que procedem à recolha de células.

A Sociedade Portuguesa de Células Estaminais e Terapia Celular (SPCE-TC) mantém publicada uma nota, no seu site, relativa a uma reunião decorrida em 2005, sobre este tema. Nessa reunião, a direção deliberou um parecer, que se mantém atual, sobre bancos de células estaminais do cordão umbilical.

Pode ler-se que a utilização de células estaminais do cordão tem,” à luz dos conhecimentos científicos atuais, uma utilidade restrita a um conjunto de patologias altamente especifico”. Estima-se que “a utilização pelo indivíduo das suas células criopreservadas poderá ocorrer em aproximadamente em um em cada 20 mil casos”.

Já nessa altura a SPCE-TC considerava “necessário” que se crie “legislação clara” e manifestou-se disponível para este processo. Esse processo não avançou, por culpa do Estado, segundo Miguel Oliveira da Silva, o que permite que empresas como a Crioestaminal possam levar pais a acreditar nas potencialidades das células estaminais.

A lista de problemas de saúde que as células podem curar é extremamente restrita, apenas em doenças raras e sem garantia de cura.

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