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Carta ao ministro de doente cardíaca que correu quatro hospitais até ser internada

Uma doente cardíaca escreveu uma carta ao ministro da Saúde, que já se tornou viral nas redes sociais, onde explica um conjunto de episódios pelos quais passou num hospital público e em vários privados para que fosse internada. Por causa da sobrelotação nas urgências e falta da camas para internamento, a doente, com uma pericardite recidiva, viu-se obrigada a percorrer vários hospitais privados pelos seus próprios meios, correndo risco de vida e sendo obrigada a custos adicionais.

Helena Ferro de Gouveia deixa reparos à não colaboração na troca de informação entre os hospitais portugueses e pede uma reflexão sobre o sistema de saúde no país. “Se nas deslocações entre hospitais me acontecesse algo quem se responsabilizaria?”, questiona.

Na carta com sete pontos, Helena Ferro de Gouveia começa por contar o que a levou, primeiramente, à urgência do hospital Santa Maria, em Lisboa, no dia 27 de dezembro de 2017, hospital que tem estado a internar doentes em macas por falta de camas.

“Uma vez que tenho pericardite recidiva (duas em 2016 e um episódio em 2017) devidamente diagnosticada e que me mantiveram internada quer em Portugal, quer na Alemanha, conheço bem os sintomas”.

Ao chegar ao hospital “não havia nem maca, nem uma cadeira de rodas” para se sentar.

“Valeu-me o voluntarismo de um agente da PSP que, conhecendo o hospital, me conseguiu desencantar uma cadeira”, escreveu a doente, lembrando que “uma dor precordial é sempre prioritária (como um AVC) haja ou não fila.”

Ainda no hospital público, Helena Ferro de Gouveia foi observada “por uma médica de medicina interna que prescreveu análises sanguíneas, um ECG e um raio x ao coração”.

“Entre a minha entrada em Santa Maria e a realização de todos os exames (entrada antes das 21 horas) passaram-se mais de cinco horas”, disse e deixa uma questão.

“Os hospitais portugueses não estão ligados em rede permitindo ao clínico saber a que procedimentos o paciente já foi submetido e a sua história clínica?”

Mesmo com uma queixa cardíaca, a doente lamenta não ter sido vista por “um clínico da especialidade”.

“E fui enviada para casa com Aspergic e um ‘se se sentir mal volte amanhã'”.

No dia seguinte e como os sintomas se mantinham, Helena Ferro de Gouveia deslocou-se a uma urgência de um hospital privado “onde após uma bateria de exames – que paguei à cabeça – foi-me diagnosticada pericardite e ordenado internamento.”

“A pergunta que coloco neste ponto é: se o paciente não tiver capacidade económica para pagar exames complementares de diagnóstico sujeita-se à sorte ou ao azar? Isto é responsável (já nem falo em ético)?”

Uma vez que naquela unidade hospitalar particular não existiam vagas para internamento… “pediram-me que pagasse os exames e a urgência e que procurasse pelo meu pé um quarto de hospital. Nem um contacto telefónico foi feito.”

Na carta publicada no seu Facebook e da qual seguiu uma exposição para o ministro da saúde Adalberto Campos Fernandes, Helena Ferro de Gouveia deixa uma questão aqui ao ministro e administradores hospitalares privados.

“O doente é um cliente, que paga salários e sustenta todo o sistema, ou é um mero factor de lucro ou prejuízo? Onde andam as boas práticas ou mesmo a decência?”

Numa outra unidade hospitalar privada, a doente queixa-se que perguntou se tinham camas disponíveis. Porém, “estavam dispostos a cobrar a taxa de urgência a uma doente com o diagnóstico feito”.

A doente cardíaca acabou por telefonar para um outro hospital privado para saber se tinham camas disponíveis mas foi-lhe dito, segundo revela, que “não lhe podemos dar essa informação pelo telefone.”

Porém, acabou mesmo internada neste último hospital desde o dia 28 de dezembro até dia 1 de janeiro.

Agora a revolta sai em forma de desabafo nas redes sociais.

“Se não tivesse 550 euros para pagar à cabeça como caução pelo internamento – entre exames e outras despesas foram cerca de mil euros em 24 horas – onde ficaria? O que me aconteceria? Se nas deslocações entre hospitais me acontecesse algo quem se responsabilizaria?”

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