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A canábis pode ter um fim terapêutico?

Uma iniciativa popular, com o apoio de especialistas e figuras públicas, voltou a lançar o debate sobre o uso da canábis com fins terapêuticos. Mas, afinal, o que pode fazer a canábis em termos medicinais?

Na verdade, a expressão é incorreta. Em termos médicos, não se usa a canábis, mas sim uma molécula que se extrai da mesma: o tetraidrocanabinol, mais conhecido pela sigla THC.

O THC é a principal substância psicoactiva das plantas da família ‘cannabis’, tendo sido extraída pela primeira vez em 1964, num laboratório em Israel.

Ao nível farmacológico, o THC é uma molécula que se liga aos recetores CB1, presentes em muitas áreas do cérebro.

Estes recetores influem em vários processos fisiológicos, como a regulação do metabolismo, da dor e da ansiedade.

E é nestas valências que investigadores, médicos e outros especialistas defendem o uso da canábis – ou, mais precisamente, de derivados da canábis com alto teor de THC – para fins terapêuticos.

Determinadas doses de THC podem ser administradas para reforçar o efeito de substâncias sedativas, como as benzodiazepinas e o opiáceos.

Foi para esse fim que, em 1986, o regulador do medicamento dos EUA (a FDA) aprovou o uso de um THC sintético (dronabinol) para minorar as náuseas e os enjoos de pacientes em quimioterapia ou com anorexia associada à sida.

Começaram então a surgir vários estudos que apontavam a eficácia de produtos derivados da canábis na inibição da proliferação celular de vários tumores, em especial no cancro da mama.

 Outros trabalhos sugerem um uso terapêutico do THC em casos de epilepsia, depressão, distúrbio bipolar e quadros de ansiedade.

Quase unânime entre a comunidade científico é a eficácia da canábis no tratamento da asma e do glaucoma.

No entanto, o THC apresenta um risco mínimo de toxicidade, podendo desencadear efeitos adversos psicóticos, cognitivos e no controlo psicomotor.

Entre os potenciais efeitos adversos encontram-se síndromes de confusão, depressão, ansiedade, danos na memória, dificuldades de atenção e diminuição da capacidade para organizar e integrar informação complexa.

Não há registo de mortes provocadas pelo consumo crónico de canábis, mas vários estudos demonstram quadros de toxicidade crónica.

O uso terapêutico de derivados de canábis, à base do THC, não é consensual entre a comunidade médica, embora com o tempo uma maioria comece a se posicionar a favor.

Em Portugal, o próximo passo compete ao poder político, depois de vários médicos e especialistas terem subscrito um projeto-lei que o Bloco de Esquerda vai apresentar em breve.

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