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Banksy – De artista de rua a herói dos tempos modernos

Girl-with-a-Balloon-by-Banksy

O nome Bansky diz-lhe alguma coisa? Arrisco dizer que é impossível que este nome lhe seja totalmente estranho. E porquê? Porque ele contaminou as redes sociais (e a internet em geral). A verdade é que embora nenhum de nós saiba a real identidade deste herói dos tempos modernos acabamos sempre por partilhar imagens contendo uma (ou mais) obras de arte da sua autoria. E de certeza que tem curiosidade em saber mais sobre este ser místico e lendário, certo? Então, este é o artigo que não pode perder!

O distrito de Barton Hill, em Bristol, na década de 1980 era uma parte assustadora da cidade.

Era tudo muito branco, tão branco que provavelmente não mais do que três famílias negras tinham de alguma forma acabado por lá viver. Então, quando Banksy, que veio de uma parte muito diferente da cidade, decidiu fazer ali a sua primeira experiência na arte do grafiti, ele estava nervoso. “O meu pai foi lá espancado quando era criança”, disse ele ao colega (também ele artista de grafitis) Felix Braun. Nesta época ele estava a experimentar diferentes nomes, assinando por vezes como Robin Banx, sendo que naturalmente acabou por evoluir para o nome pelo qual hoje em dia todos o conhecemos: Banksy.

Foi por volta desta época que acabou por estabelecer a sua abordagem que o distingue de todos os outros: stencil graffiti. Um dos poucos episódios que se conhecem desta sua fase reporta ao tempo em que fazia grafitis em comboios com um grupo de amigos. Diz ele que enquanto grafitavam o comboio apareceu a British Transport Police e todos correram o mais que puderam. “Os meus amigos conseguiram chegar ao carro e desapareceram, mas eu não tive a mesma sorte. Acabei por passar mais de uma hora escondido debaixo de um camião do lixo, que deitava óleo do motor por todo o lado (sujando-me assim todo, obviamente).

Enquanto estava lá a ouvir os polícias a seguirem os caminhos-de-ferro em busca de todos nós, percebi que eu tinha que encurtar o tempo dos meus grafitis para metade ou então restava-me desistir. Eu estava a olhar para a placa estampada no fundo do tanque de combustível quando me apercebi que poderia simplesmente copiar aquele estilo!”

Em 1999, já ele estava a caminho de Londres. E por esta altura estava a começar a apostar no anonimato. A primeira explicação para o seu anonimato é a mais simples: sendo ele alguém que fazia grafitis (algo ilegal e punido pela lei) é facilmente perceptível que tinha graves problemas com as autoridades, como tal, permanecer anónimo era a melhor solução. Mas com o passar do tempo acabou por descobrir que o anonimato tinha criado publicidade gratuita tornando-o num herói dos tempos modernos. Á medida que a sua arte de rua surgiu em cidades da Grã-Bretanha, as comparações com Jean-Michel Basquiat e Keith Haring começaram a circular.

A primeira “exposição” de Banksy em Londres teve lugar na Rivington Street em 2001, quando ele e outros artistas de rua criaram uma instalação num túnel perto de um pub. “Nós retirámos alguns sinais de um edifício que estava em obras e pintámos as paredes de branco.

Concluímos as nossas obras de arte em cerca de 25 minutos e realizámos, mais tarde nessa semana, uma festa de abertura com cerveja e hip-hop que estava a tocar directamente da parte de trás de uma carrinha. Cerca de 500 pessoas apareceram para uma abertura que não havia custado praticamente nada a preparar”.

Em Julho de 2003, Banksy montou a “Turf War”, a sua primeira grande exposição. Localizada num antigo armazém em Hackney, a exposição deslumbrou a cena artística de Londres, com a sua atmosfera carnavalesca, e contou com uma vaca viva, um retracto de Andy Warhol em couro assim como a rainha Elizabeth II na forma de um chimpanzé.

No final desse ano, uma figura alta, com farta barba e munido de um sobretudo escuro, cachecol e chapéu passeou pelo Tate Britain segurando um grande saco de papel. Ele fez o seu caminho para a sala 7, no segundo piso. Aí chegado retirou do saco a pintura que carregava consigo: um quadro a óleo, mostrando uma cena rural, algo que tinha encontrado num mercado de rua de Londres. Do outro lado da tela, que intitulou “Crimewatch UK Has Ruined the Countryside for All of Us”, ele estampou a azul-e-branco a típica fita que a polícia coloca em cada cena de crime que investiga.

{loadposition inline}Durante os 17 meses seguintes, sempre envergando diferentes disfarces, Banksy levou as suas próprias obras de arte até grandes museus pregando sempre várias partidas à segurança (e neste lote de museus podemos incluir o Louvre, por exemplo). Lá, ele instalou com sucesso uma imagem da Mona Lisa com um smile a cobrir todo o rosto. Em Nova Iorque, ele conseguiu anexar um pequeno retracto de uma mulher (que ele tinha modificado fazendo com que a mesma envergasse uma máscara de gás) numa parede no Metropolitan Museum of Art.

Banksy tornou-se numa estrela internacional em 2005. Em Agosto desse ano, chegou a Israel, onde pintou uma série de imagens no muro da Cisjordânia. Imagens de uma menina segurando alguns balões e por eles sendo transportada para o topo da parede, duas crianças com um balde e uma pá a sonhar com uma praia do outro lado do muro, e um menino com uma escada encostada à parede tornaram-se imagens marcantes na sua carreira.

Dois meses depois de voltar de Israel, Londres recebeu a sua exposição ” Crude Oils”. Aqui rompeu mais uma barreira: pegou num quadro icónico de Claude Monet e reformulou-o incluindo lixo e diversos carrinhos de supermercado a flutuar por entre os lírios. Colocou também um hooligan em plena rua a atirar uma pedra a um vidro, no célebre quadro “Nighthawks” de Edward Hopper.

Por entre tantas exposições e instalações era inevitável que, mais cedo ou mais tarde, acabasse por passar por Los Angeles. Foi lá que Banksy apresentou “Barely Legal”, em Setembro de 2006. Bansky disse uma vez: “Hollywood é uma cidade onde eles honram os seus heróis escrevendo os seus nomes na calçada para serem pisados por pessoas gordas e para que cães façam lá as suas necessidades. Pareceu-me um óptimo lugar para visitar e para ser ambicioso nas minhas criações.” Mais de 30.000 pessoas assistiram às suas obras de arte, sendo que entre elas esteve Brad Pitt, por exemplo.

A peça central desta exposição foi um elefante, vivo, coberto de tinta vermelha e com um padrão de flor-de-lis. Os defensores dos direitos dos animais ficaram furiosos e as autoridades ordenaram que a tinta fosse removida o mais rápido possível. Foram também distribuídos panfletos à multidão que diziam: “Há um elefante na sala…20 mil milhões de pessoas vive abaixo da linha da pobreza.”

Quando em 2011 o Museu de Arte Contemporânea, em Los Angeles, elaborou um estudo sobre a arte de rua e o graffiti, Banksy esteve, obviamente, representado por entre os 50 artistas escolhidos. Esta foi uma demonstração do fenómeno que veio a ser conhecido como o “efeito Banksy”, o sucesso estrondoso do artista em trazer a arte urbana para o meio cultural e mainstream. Pode-se dizer que Banksy pode muito bem ter chegado ao ponto em que o seu sucesso faz com que seja impossível permanecer enraizado na subcultura de onde emergiu.

A verdade é que neste momento um número considerável das suas obras só existe na nossa memória, ou em fotografias espalhadas pela internet. Segundo um relato recente, por exemplo, em Londres, dos 52 exemplares documentados de arte de rua da autoria de Banksy, cerca de 40 obras tinham desaparecido completamente.

Hoje, ele está presente desde Viena até São Francisco, de Barcelona até Paris ou mesmo em Detroit. E passou de um “simples” artista de rua para um artista conhecido e reconhecido internacionalmente (é favor não esquecer o documentário da sua autoria, “Exit Through the Gift Shop”, que foi inclusivamente nomeado para um Óscar).

Mas com tamanha popularidade surgem, evidentemente, as falsificações. E como controla Bansky as falsificações das suas obras? Através da sua própria associação, a “Pest Control”, que tem como função avaliar e autenticar as suas obras. Esta é também uma forma de se proteger dos fãs demasiado curiosos: segundo consta raramente ele se encontra nas instalações da associação, mas quando tal acontece faz sempre uso de um saco de papel na cabeça para nunca ser reconhecido. A alternativa para o contactar é o correio electrónico, através do qual dá inclusivamente quase todas as entrevistas à imprensa. A sua última entrevista cara-à-cara foi no já distante ano de 2003.

Podemos não conhecer o seu rosto e não saber a sua verdadeira identidade, mas feitas as contas…é isso assim tão importante?

Temos acesso às suas obras de arte, e no final do dia é isso que realmente interessa. Seja ele quem for, e esteja onde estiver, desde que nos continue a brindar com criações inesperadas, imaginativas e surpreendentes, nós cá estaremos para ver e partilhar por essa internet afora.

Boa semana.
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