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Ortorexia: Quando ‘comer saudável’ se torna numa doença

carrie armstrongVegetarianos, ovolactovegetarianos, veganos, dietas detox… Comer saudável é uma preocupação crescente, mas quando se torna numa obsessão é uma doença. Os médicos chamam-lhe ortorexia.

Foi em 1997 que o médico Steven Bratman cunhou o termo ‘Ortorexia’, que significa ‘uma fixação patológica em comer saudável’.

Uma fixação de que o próprio Bratman foi uma vítima bizarra, pois tornou-se conhecido por ser a cobaia de uma experiência: só comia vegetais que tivessem sido colhidos até 15 minutos antes e cada garfada tinha de ser mastigada por 50 vezes.

Na era da internet e das redes sociais, a ortorexia está de volta, sobretudo devido à proliferação de sites e blogues com receitas milagrosas para emagrecer, perder peso ou viver de forma mais saudável, muitas das vezes sem qualquer sustentação científica.

Carrie Armstrong, uma apresentadora de eventos desportivos de 35 anos, aceitou dar o testemunho de uma ortorética, numa entrevista ao The Telegraph.

A obsessão por ‘comer saudável’ começou há oito anos, quando um vírus a deixou de cama. Depois do médico lhe ter dito que a medicação ‘normal’ pouco podia fazer para acelerar a recuperação, Carrie Armstrong começou a procurar, na internet, respostas diferentes nas medicinas alternativas e em dietas para melhorar o corpo.

“A primeira coisa que pensei foi que adoeci por ter estado todos estes anos a comer mal”, admitiu a britânica.

Foi então que Armstrong começou a ler “sobre as transformações em quem desistia da carne e do açúcar”, e logo depois “dos carbohidratos”. “Foi a partir daí” que se instalou a obsessão por ‘comer saudável’, estimulada pelas promessas, em sites e fóruns de saúde, de melhorias na energia e na atenção.

A mulher deixou de consumir qualquer alimento que tivesse relação com um animal ou que tivesse sido cozinhado.

Em apenas 18 meses, passou dos 70 para os 41 quilos de peso. Deixou de menstruar e tornou-se “fanática”, segundo as palavras dela, sobre tudo o que ingeria.

“Cheguei a uma fase em que só comia melão orgânico, pois é à base de água, e não conseguia ver como me estava a intoxicar. Cada vez que tentava ingerir outra coisa havia alguém – um nutricionista, um ‘blogger’ bem intencionado ou um membro de um fórum de saúde – a alertar-me que estava a fazer algo errado”, recordou.

“Eu nem sequer estava a fazer isto para emagrecer ou perder peso”, realçou Carrie Armstrong: “Só queria curar-me e ficar limpa. Há uma descarga de adrenalina para cumprir com isto e fico stressada se como algo que considero prejudicial”.

Só quando passou a viver com uma amiga que idolatrava é que a mulher se apercebeu da doença: “Um dia, quando cheguei com mais um kit de detox, ela disse-me ‘O que estás a fazer? Isso parece um desperdício da vida’. Foi então que percebi que não havia nada saudável no que eu estava a fazer”.

Não há dados nem estimativas sobre quantas pessoas sofrem de ortorexia, mas as redes sociais dão uma ajuda a compreender a dimensão do fenómeno. Só no Instagram, a hashtag ‘orthorexia’ (em inglês) foi referida em mais de 70 mil posts, na maioria associados a dietas de limpeza do organismo.

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