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“As escolas não estão pensadas para as crianças”, diz especialista

Sandy Speicher, especialista em inovação educacional da empresa que criou o primeiro rato da Apple, defende que “as escolas não estão pensadas para as crianças” e que “falta criatividade aos professores”. Em entrevista ao El País, instiga os docentes a “terem coragem para mudar” sistemas de ensino desadequados. E lembra que os professores têm mais poder do que qualquer político.

Em 1980, a Apple encomendou à IDEO, uma empresa de inovação com sede em São Francisco, que projetasse um novo rato para o seu novo computador, recém-lançado.

O desafio foi um sucesso e o rato criado apresentou custos 10 vezes mais baixos do que os protótipos de então. E por que razão esta informação é importante?

É que a IDEO está hoje a utilizar os mesmos métodos (que aplicou na criação desse rato), mas na transformação das escolas.

Sandy Speicher faz parte dessa equipa criativa e dedica-se à inovação educacional há nove anos. Ao longo dos anos de experiência, trabalhou noutros projetos de inovação no ensino, em todo o mundo.

Concedeu uma entrevista ao diário espanhol El País, onde abordou alguns dos principais problemas das escolas. E o problema central que aponta é “o desencanto” com que os estudantes olham a escola.

“Num questionário a 22 mil alunos do ensino médio, realizado pelo Centro Yale para a Inteligência Emocional, perguntaram-lhes como se sentiam nas aulas. As respostas mais comuns são ‘aborrecido’, ‘entediado, ‘stressado’ ou ‘cansado’”, aponta a especialista, formada em design gráfico, com um mestrado em Aprendizagem, Desenho e Tecnologia.

“Não estamos a pensar nas escolas, tendo em consideração a vida das crianças. Estamos a ferir a relação das crianças com a aprendizagem. Porque se sentem aborrecidos numa sala de aula? Porque a agenda tem atividades em excesso e os alunos não têm energia para se envolver”, defende Sandy Speicher.

“Temos de repensar todo o sistema de ensino. E isso não pode ser feito sentado num gabinete, com as portas fechadas. É preciso ir às salas de aula e entrevistar as crianças, os professores e falar também com os pais. E cada área geográfica requer um modelo”.

A mudança, segundo a especialista, deve partir dos próprios professores.

“A maioria das pessoas acha que mudar passa, necessariamente, pelos governos ou pelas políticas. Muitos professores não sabem inovar e cingem-se aos regulamentos, às regras. Eles devem perceber que têm uma grande influência sobre a vida dos estudantes, muito mais do que qualquer política. Os professores devem ter noção do seu poder”, afirma.

Sandy Speicher acha mesmo que o setor da educação aguarda “há muitos anos” por professores “inovadores, com coragem para tentar mudar”.

“A educação é o que acontece entre um professor e um aluno, e não o que está escrito num regulamento”.

Para a especialista, há a ideia generalizada que defende que os professores devem procurar a perfeição, para não cometer erros. “E esse princípio dificulta o processo de mudança, porque torna difícil assumir riscos.

“Os professores precisam de fazer experiências e muitas vezes o sistema não é suficientemente flexível”, conclui.

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