Estão a ser colocados em Lisboa objetos para afastar os sem-abrigo, prática que não é nova, mas que segundo Duarte Paiva, da Associação Conversa Amiga e do projeto ‘Um Sem-Abrigo, Um Amigo’, está a aumentar, nos últimos anos. Desde vasos a grades à entrada de edifícios, tudo vale para “enxotar as pessoas”, expressão usada pelo vereador da Câmara de Lisboa, João Afonso. A edilidade condena esta atitude.
Em declarações à agência Lusa, Duarte Paiva, coordenador da Associação Conversa Amiga e do projeto ‘Um Sem-Abrigo, Um Amigo’, denuncia uma prática cada vez mais comum nas ruas de Lisboa, praticada por pessoas que pretendem afastar os sem-abrigo.
Tudo vale: desde a colocação de vasos, a gradeamentos, desvio de contentores do lixo, entre outros métodos que acabam por ser perigosos não só para os sem-abrigo, como para os utilizadores da via e os próprios moradores dos edifícios.
“Os mais comuns são a colocação de gradeamentos, a colocação de vasos de plantas de grandes dimensões, blocos de cimento, contentores do lixo, tudo aquilo que possa impedir uma pessoa de pernoitar lá”, conta à Lusa Duarte Paiva, da Conversa Amiga, associação que presta apoio a sem-abrigo.
Segundo Duarte Paiva, está prática de colocação de obstáculos à entrada dos prédios “não é nova”, mas, nos últimos anos, verifica-se que tem aumentado. “Estão a multiplicar- pela cidade”, adianta o mesmo responsável.
A agência Lusa contactou o vereador dos Direitos Sociais da Câmara de Lisboa, João Afonso, que lamenta o facto e acusa os proprietários de cometerem um ato ilegítimo.
“Não é legítimo”, diz, justificando que alguns objetos são “intrusivos”, outros “podem ser perigosos”, ou tapar “saídas de emergência”. Acresce que estão perto da via pública e “uma pessoa pode cair e também se magoar”.
A Câmara de Lisboa considera que é essencial “informar os donos dos edifícios sobre o que podem e não podem fazer”. Ao mesmo tempo, os proprietários devem ser “sensibilizados” para um problema social, que é a existência de sem-abrigo.
Acresce que os moradores desses prédios estão a cometer uma ilegalidade, em alguns casos, uma vez que estão a proceder a alterações de fachada. “É natural que seja possível autuar”, alerta.
Da parte da Câmara Municipal de Lisboa, haverá um esforço de sensibilização acrescido. “O que nós tentamos fazer é que eles [proprietários] percebam que não é ao pôr obstáculos, objetos contundentes, ou o que quer que seja, que se resolve a situação. Não se podem enxotar as pessoas”, afirma João Afonso à Lusa.
Segundo Duarte Paiva, a freguesia onde mais se verifica esta atitude perante os sem-abrigo é Arroios. No entanto, um pouco por toda a cidade é visível a colocação de obstáculos.
Além de ser uma prática de preconceito, ‘enxotar’ pessoas que não têm teto dificulta a missão de associações que tentam prestar-lhes apoio, já que se torna mais difícil detetar um sem-abrigo, argumenta a Conversa Amiga.
Duarte Paiva salienta que o perfil de sem-abrigo não é a pessoa que não quer trabalhar, ou que foi vencido por dependências, mas antes “pessoas muito mais jovens e que perderam o seu emprego”, sendo que a rua é o único espaço que lhes resta.
Recentemente, em Londres verificou-se um fenómeno semelhante: foram colocados, à entrada de alguns prédios, picos metálicos para impedir a permanência de sem-abrigo.
Os próprio moradores confessam que não gostam da medida e que se veem naqueles espigões um tratamento desumano. “É como se tratassem os sem-abrigo como animais”, diz uma das residentes, Emi Takehara, à Sky News. Leia mais.