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Uma guitarra como passaporte para o mundo

Foi em Sesimbra, que tive o prazer de encontrar e conhecer, um jovem de 16 anos, a quem vou chamar João.
Proveniente de Gouveia, na Serra da Estrela, este jovem captou a minha atenção enquanto tocava guitarra para os turistas nas esplanadas perto da praia.

Não quis que publicasse o seu nome verdadeiro, muito menos uma fotografia, mas não se importou que contasse a sua história.
Foi com 10 anos, numas férias em casa dos tios em Lisboa, que viu, e pegou pela primeira vez numa guitarra. “Nem sei de quem era, porque nunca vi ninguém a tocar, tinha as cordas com ferrugem e estava muito riscada” – contou-me o João.
Foi nessa mesma guitarra que começou a “tirar” uns sons, e rapidamente se apercebeu que conseguia reproduzir todas as músicas que ouvia. “Salvo erro a primeira coisa que toquei foi Summer of 69, do Bryan Adams”.

João não sabe reconhecer as notas e os acordes na guitarra, é dotado de um talento natural, e um ouvido fantástico, que lhe permite interpretar as músicas que conhece. Não tem uma voz fantástica, mas é na guitarra que brilha, numa harmonia fantástica, carregada de detalhes que torna cada interpretação algo de muito seu, e muito agradável de se ouvir.

João tem outro talento, sabe captar a atenção de cada pessoa, o que torna quase impossível negar uma moeda, que no fundo é o prémio pelo seu talento, e pela sua música. João passa algum tempo perto das mesas, se ouve falar Italiano aproxima-se e interpreta um “O sole mio”. Se é Francês que se fala salta “Petite demoiselle”, ou como tive a oportunidade de ouvir “Non, je ne regrette rien”. O “Viva la España” dispensa apresentações, mas conseguiu levantar em aplauso uma mesa de jovens espanhóis.
Rolling Stones, The Beatles, Bon Jovi, Pedro Abrunhosa, GNR, entre outros, são sons de música ambiente, mas segundo as palavras de João: “É a que menos vende”.

Também consegue detectar alguns sotaques: “O Irlandês tem um sotaque vincado, arrisco logo os U2”. É nesta personalização, como que em gesto de dedicatória que João se destaca de todos os outros. E é assim que João consegue financiar as suas férias desde os 14 anos.

“Já fui para Nazaré, Figueira da Foz, quase toda a costa Algarvia, e Sanxenxo. Este ano escolhi Sesimbra”. Do seu dinheiro gasta apenas a viagem inicial, tudo o resto, refeições, estadia, e viagem de volta são pagas com a sua música, moeda a moeda, mesa a mesa, esplanada a esplanada.

Este jovem empreendedor, que diz aos pais que vai de férias com os amigos da internet, e podia vir a ser um talento na música portuguesa, não alimenta o sonho de artista: “Há muita gente, e com talento, somos um país pequeno e exportar a nossa música é um sonho quase impossível.”

David Fonseca é o seu ídolo, de quem guarda o autógrafo que o acompanha nas suas viagens, mas João sonha ser médico, estudar em Coimbra, onde entrar na tuna seria a realização de um sonho.

Ao “João”, o meu muito obrigado pela música, e pela agradável conversa.

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