Já há uma vacina para os macacos com sida. Os resultados ainda estão longe dos desejados, pois os efeitos só foram positivos em metade dos primatas, mas a estratégia é “promissora” para que, numa futura vacina para humanos, as células ganhem uma memória imunitária.
Uma vacina desenvolvida para o vírus da imunodeficiência símia (SIV, na sigla internacional) demonstrou resultados “promissores”, nos testes com macacos-rhesus, e mostra o caminho para que, no prazo de dois anos, possam começar as experiências para fabricar uma vacina contra o vírus da imunodeficiência humana (HIV, na sigla internacional), responsável pela sida.
Os cientistas da Universidade de Ciência e Saúde de Oregon (EUA) manipularam geneticamente um vírus da família do citomegalovírus (causador da herpes) que provoca uma forma de sida nos símios. Através da inserção de proteínas do SIV nesse vírus, o sistema imunitário os macacos-rhesus utilizados no ensaios foram continuamente confrontados com a ‘ameaça’ da doença.
Os resultados, publicados hoje na revista Nature, demonstraram que os organismos dos símios fabricaram um novo tipo de glóbulos brancos (linfócitos T) com a missão de destruir todo o material celular com proteínas do SIV. Os macacos utilizados no ensaio tinham sido infetados com uma estirpe altamente patogénica do SIV, mas metade não apresentou qualquer sinal da doença no período de um a três anos após a vacinação.
“É sempre difícil alegar que estamos perante a erradicação do vírus”, alerta Louis Picker, o coordenador do estudo, citado pela BBC News: “pode sempre existir uma célula, que não foi analisada e que tem o vírus lá dentro. No geral, utilizando critérios muito rigorosos, não há nenhum vírus no corpo destes macacos”.
Infetados com um vírus mortal em menos de dois anos, cerca de metade dos macacos-rhesus do ensaio ‘mataram’ a doença em seis meses. São resultados “promissores”, como descreveu o investigador do Instituto para Vacinas e Terapia Genética da Universidade de Ciência e Saúde de Oregon.
Na opinião dos cientistas, a manipulação dos citomegalovírus fez o organismo desenvolver uma memória imunitária de longo prazo, com os linfócitos T a atacarem de imediato qualquer material genético que apresente um sinal de SIV, como proteínas de vírus ou a tendência para replicação. Falta, porém, explicar porque o sucesso só foi alcançado com metade dos símios.
“É concebível que os linfócitos T estimulados e mantidos por um citomegalovírus possam exercer uma pressão imunitária nas células que expressem proteínas do HIV e facilitarem a deplecção de reservatórios residuais de HIV nos pacientes que estão a fazer tratamentos anti-retrovirais para suprimirem o vírus”, descreveram os autores, no texto hoje publicado na revista.
Os resultados são ainda mais “promissores” quando a estratégia poderá ser replicada a nível humano. O primeiro passo será a manipulação de um citomegalovírus humano, um objetivo que acarreta o risco de se tornar numa infeção. Assim que as autoridades permitirem os ensaios com este vírus, bastarão dois anos, salienta Louis Picker, para que comecem as experiências para uma vacina contra o HIV.