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RTP: Nuno Santos é a primeira baixa da guerra interna pelos ‘brutos’ de imagens da manifestação

nuno santosA RTP, por intermédio da Comissão de Trabalhadores, quer saber se a RTP, através da Direção de Informação, cedeu ou não imagens, editadas ou em bruto, da manifestação de 14 de novembro à PSP. Vítor Gonçalves, diretor-adjunto, insiste: “era muito grave se saísse”.

As imagens das manifestações de 14 de novembro, recolhidas por jornalistas da RTP, foram ou não cedidas à PSP? A Direção de Informação (DI) admite a existência de dois dvd com várias imagens, mas assegura que nenhum conteúdo saiu da estação. A Comissão de Trabalhadores (CT) desconfia, especialmente depois da administração ter revelado, por comunicado, que “responsáveis da DI facultaram a elementos estranhos à empresa (…) imagens dos incidentes”.

Na sequência desta nota, Nuno Santos demitiu-se, ontem à noite, do cargo de diretor de informação. É a primeira baixa de uma ‘guerra civil’ que ameaça tomar conta da RTP, com a CT a exigir que a DI esclareça um pedido de gravação de imagens dos incidentes em frente à Assembleia da República.

O porta-voz da CT, Camilo Azevedo, tem exigido um “esclarecimento aprofundado” da situação: “essa história, no limite, justificava a gravação das imagens de uma cassete. E as outras? Para que é que a DI quis duas horas e quarenta e cinco minutos de gravações, de cinco equipas de reportagem ao longo da tarde, se o que lhe interessava era fazer prova de um momento que demorou apenas alguns minutos”?

“Um momento” que, alegou a DI, visa ser “uma salvaguarda” caso a RTP tenha de apresentar um processo contra incertos, na sequência de uma viatura ter ficado danificada na altura em que uma equipa de reportagem acompanhava a manifestação.

“Nenhuma imagem saiu ou sairá da RTP”, garantia, sábado, o diretor adjunto de Informação, Vítor Gonçalves, acrescentando que o pedido de compilação de imagens em dvb “foi feito de forma transparente, através dos meios normais e seguindo o protocolo das normas internas”.

“Os dvd foram feitos, mas não foram para lado nenhum. Houve alguém que achou que eram para a polícia, mas não é verdade. Estou a dar a minha palavra que aquilo não saiu e não vai sair. Era muito grave se saísse”, defendeu Vitor Gonçalves, que na sexta-feira transmitiu esta posição à CT e ao Conselho de Redação, numa reunião de urgência em que o diretor-adjunto substituiu Nuno Santos por este se encontrar em Inglaterra.

Contudo, a CT permanece desconfiada quanto aos verdadeiros motivos para a gravação de imagens, editadas e por editar (conhecidas como ‘brutos’, por não terem sido trabalhadas), uma vez que a eventual entrega desses ‘brutos’ às autoridades policiais “coloca em causa os princípios deontológicos pelos quais se rege a profissão de jornalista, trai a confiança entre os jornalistas e as fontes (porque as pessoas numa manifestação são fontes de uma peça de informação, ainda que não identificadas) e, sobretudo, coloca em risco a integridade física de todos os elementos de qualquer equipa de reportagem, jornalistas e pessoal técnico, que no futuro sejam destacados para cobrir eventos semelhantes”, como explicou Camilo Azevedo.

Os dvd foram gravados depois de, na quinta-feira, a DI ter pedido por email, que a Lusa garante ter sido enviado por Ana Pitas (subdiretora de informação com responsabilidade dos Meios de Produção), as transcrições de 50 minutos de duas cassetes, 25 minutos de uma terceira e ainda 20 minutos de uma quarta e de uma quinta cassete, num total de 165 minutos de imagens recolhidas por cinco equipas de reportagem, com custos “imputáveis ao Telejornal”. Mais: “se for possível, estas imagens devem ser identificadas com o logótipo RTP”, como se lia na mensagem enviada à secção de Planeamento.

As questões dos trabalhadores sucedem-se: “quem pediu este trabalho a Ana Pitas? Quem visualizou e apontou nas cassetes o momento a partir do qual queria a gravação? Para quem foram os dvd”?

Em defesa da DI, Vítor Gonçalves recordou o email da PSP a solicitar, “na semana passada, para visionar as imagens que foram transmitidas pelas várias televisões”, argumentando que se a polícia tivesse os dvd não teria feito tal pedido.

Contudo, Camilo Azevedo responde que “as televisões não deviam ter disponibilizado quaisquer imagens sem um mandato judicial concreto, uma vez que, neste caso concreto, a PSP foi envolvida nos confrontos e portanto é parte interessada em quaisquer eventuais processos judiciais que venham a acontecer, pelo que as imagens nunca terão valor de prova em tribunal”.

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