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Racismo em Itália: Depois de apelo para que fosse violada, ministra é comparada a orangotango

cecile kyengex210cecile kyengeCecile Kyenge, ministra da Integração, voltou a ser alvo de racismo. Depois de um apelo à violação por parte de uma deputada da Liga Norte, o vice-presidente do Senado, Roberto Calderoli, comparou a governante a um orangotango. “Não consigo pensar noutra coisa”, reforçou.

A ministra Cecile Kyenge, natural da República Democrática do Congo (chegou a Itália com 18 anos) e a primeira governante negra em Itália, voltou a ser alvo de racismo. A ofensa partiu, de novo, de uma figura da Liga Norte, um dos maiores partidos da oposição. Roberto Calderoli, ‘apenas’ o vice-presidente do Senado, comparou a ministra a um orangotango.

“Gosto de animais (ursos e lobos, como todos sabem), mas quando vejo imagens de Kyenge não consigo pensar noutra coisa, ainda que não esteja a dizer que ela é, nas semelhanças com um orangotango”, afirmou Calderoli, citado pela Reuters, quando participava num evento partidário realizado em Treviglio, no norte do país.

O dirigente da Liga Norte procurava demonstrar que o êxito de Cecile Kyenge era uma inspiração para os “imigrantes ilegais”, convidando a ministra a ir para o Governo “no seu país”, o Congo.

No mês passado, fora Dolores Valandro, deputada da Liga Norte eleita pela região de Pádua, a escrever no Facebook sobre Kyengue: “por que ninguém viola esta mulher? Assim ela entenderia o que a vítima de uma atrocidade sente. Que vergonha”.

A visada voltou a desvalorizar os insultos. “Não dou importância pessoal às palavras de Calderoli, mas elas entristecem-me pela imagem que dão da Itália. Creio que todas as forças políticas devem reflectir sobre o uso que fazem da comunicação”, salientou Cecile Kyenge, citada pela Ansa.

Os políticos refletiram e têm sido quase unânimes na condenação de Roberto Calderoli. O Presidente Giorgio Napolitano ficou “chocado e indignado” e o primeiro-ministro, Enrico Letta, considerou as afirmações “inaceitáveis”, pois “ultrapassam todos os limites”, manifestando “total solidariedade e apoio a Cecile”.

Pietro Grasso, presidente do Senado, exige que o ‘vice’ peça desculpas, enquanto Laura Boldrini, líder da Câmara dos Deputados, criticou “as palavras vulgares e indignas de instituições”.

“A minha intenção não era ofender e se a ministra Kyenge se ofendeu, peço desculpa, mas o meu comentário foi feito num mais vasto discurso político que criticou a ministra e as suas políticas”, desculpou-se Calderoli, num comunicado em que garantiu ter apresentado desculpas à “ministra Kyenge”.

Na origem das polémicas com Kyenge está a proposta de lei para conceder a cidadania italiana às crianças nascidas em território italiano e cujos pais sejam imigrantes, programada pela ministra da Integração. A Liga Norte, de direita, defende uma política anti-imigração, pretendendo fazer da governante oriunda do Congo um exemplo.

O próprio Calderoli já tem historial racista, que em 2006 lhe custou a saída do Governo, quando Silvio Berlusconi era o primeiro-ministro: só nesse ano insultou os jogadores “negros, muçulmanos e comunistas” da França (que perdeu a final do Mundial de futebol para a Itália) e vestiu uma ‘t-shirt’ com um cartoon ofensivo sobre Maomé.

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