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Pedofilia: ONU exige “informações detalhadas” ao Vaticano, apesar do “embaraço”

papa franciscoO Vaticano reconheceu casos de pedofilia e o papa Francisco assumiu que os culpados devem ser punidos, mas o Comité para a Protecção das Crianças da ONU quer “informações detalhadas” sobre alegados encobrimentos de casos e de assistência às vítimas.

Os problemas do Vaticano com os casos de pedofilia cometidos por membros do clero atingiram mais um nível com a entrada em cena das Nações Unidas (ONU). O Comité para a Protecção das Crianças, que regula a aplicação da Convenção dos Direitos das Crianças da ONU, exigiu “informações detalhadas” sobre os casos de pedofilia ou de violência contra crianças, tendo enviado uma lista de perguntas ao Vaticano, a serem respondidas até 1 de novembro, e agendando audiências para janeiro, em Genebra.

“Tendo em conta que a Santa Sé reconheceu casos de violência sexual contra crianças cometidos por membros do clero em numerosos países”, a ONU necessita de “informações detalhadas sobre todos estes casos”, uma vez que o Vaticano tem lugar de observador permanente e é signatário da Convenção dos Direitos das Crianças.

As “informações” pedidas abrangem vários aspetos, como a identificação de “responsáveis por crimes sexuais” que tenham mantido atividades com crianças, quais as ações legais para ilibar ou punir os suspeitos, se as denúncias de suspeitas eram obrigatórias, qual o tipo de apoio concedido às vítimas reconhecidas e quantas, reconhecidas ou não, receberam “indemnizações financeiras, apoio psicológico e assistência à reintegração social”.

A ONU questiona ainda, no caso dos padres suspeitos que acabaram transferidos para outra paróquia, “se houve instruções para não denunciar os abusos e de que nível da hierarquia vieram as instruções”, assim como “se houve crianças silenciadas para minimizar o risco de divulgação pública”.

A última vez que o Vaticano teve de responder perante a ONU data de novembro de 1995, pelo que as perguntas agora enviadas reportam a todos os casos ocorridos desde então. “Se a Santa Sé revelar o que sabe isso vai ser um embaraço, mas pode assinalar um ponto de viragem. O Papa Francisco diz que os culpados de abusos devem ser punidos e esta pode ser a oportunidade para mostrar ao mundo que está a falar a sério”, comentou John McManus, especialista britânico em questões religiosas, citado pela BBC.

A intervenção da ONU tem por base a descrença, por parte dos grupos de apoio às vítimas, de que a Santa Sé combata a pedofilia dentro da Igreja, apesar dos discursos dos dois Papas ainda vivos: o emérito, Bento XVI, pedira perdão às vítimas quando era o sumo pontífice, enquanto Francisco assumiu o cargo a prometer “agir de forma decisiva, promovendo todas as medidas para ajudar os que sofreram e garantir que os procedimentos necessários são desencadeados contra os culpados”.

“Estamos a lidar com uma monarquia global com poucos controlos ao seu poder, pelo que recorremos às instituições internacionais”, justificou David Clohessy, diretor de uma associação de apoio às vítimas (nos EUA), à entrada para uma audiência na ONU. 

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