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Não sei se sou Charlie Hebdo

maome caricatura Por um lado sou Charlie Hebdo, defendo a liberdade de expressão, pensamento e direito à crítica. Não é legítimo querer que a cultura ocidental, berço da liberdade e da democracia, renuncie ao exercício desses valores, que comece a impor censura e limites à liberdade de expressão. Estabelecer temas proibidos e renunciar a um princípio fundamental da cultura da liberdade: direito à crítica. Fazê-lo sem ter medo de represálias de qualquer tipo.

Não poder exercer essa liberdade de expressão, pelo humor, de uma maneira irreverente e crítica é coarctar a liberdade de expressão.

Contudo, por outro lado, não sou Charlie Hebdo porque a liberdade deve ter alguns limites. Não se pode dizer tudo e escrever tudo que nos apetece. Deve haver princípios de postura e conduta.

De outro modo, muitos líderes que desfilaram na épica manifestação de Paris, nos seus países os jornalistas, os bloggers são sistematicamente perseguidos, por exemplo, no Egipto, Turquia, Rússia, Emiratos Árabes Unidos, etc. Isto mostra alguma incoerência e hipocrisia.

A prisão em França do humorista Dieudonné por ter publicado no seu Facebook uma mensagem dizendo: ” Sinto-me Charlie Coulibaly”, juntando o nome do jornal (Charlie) ao apelido do assassino de quatro pessoas no supermercado judaico (Coulibaly). Mostra à saciedade que a liberdade de expressão em França não é assim tão livre.

Esta detenção leva a questionar os limites de liberdade. Porque é que Dieudonné é atacado, ao passo que Charlie Hebdo pode fazer primeiras páginas sobre religião? A pergunta foi feita por inúmeros franceses e escrita pelo Le Monde.

Eu defendo a liberdade de expressão mas condeno o fanatismo, a violência e o incitamento ao ódio. Todavia acho que deve haver bom senso, evitar acicatar ânimos e o uso de expressões ofensivas que incitem à violência.

Talvez cada jornal ou meio de comunicação social deva ter códigos éticos de conduta, no fundo, auto-regular os limites da sua liberdade de expressão.

Sou a favor da coexistência pacífica entre o mundo ocidental e oriental evitando expressões ofensivas, difamatórias e discriminatórias

Reconheço que os desenhos do Charlie Hebdo podem ofender mas não matam, todavia não posso idolatrar os jornalistas do Charlie Hebdo, ao ridicularizarem o profeta Maomé com caricaturas, porque tenho que ter um mínimo de respeito por pessoas com credos e fés diferentes.

Pode ser uma boa ocasião para aprender algo e meditar: pode-se ser crítico sem ser-se ofensivo. Esta linha ténue que separa a liberdade de expressão e a ofensa.

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