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Ler em Papel ou num Ecrã? Eis a Questão!

Nós, aqueles que gostam verdadeiramente de ler, não trocamos o papel por nada. Essa é a verdade. Sim, as novas tecnologias são fantásticas e permitem, por exemplo, levar qualquer livro para qualquer lado (sem que tenhamos que arcar com o seu peso, o que é maravilhoso em alguns casos). Mas isso não é tudo. Falta-nos o toque do papel. Falta-nos o cheiro das folhas que inebriam as nossas narinas. Faltam aqueles momentos em que paramos de ler apenas para confirmar, pela centésima vez, cada detalhe da capa, da editora, da lombada e para cheirar, uma vez mais, as folhas. Mas entre um meio (papel) e o outro (ecrã, seja em que formato ou plataforma for) qual é o melhor? Qual devemos escolher? Estarão os ecrãs a mudar a nossa mente e os nossos hábitos de leitura? As respostas a estas, e tantas outras, perguntas podem ser encontradas nesta crónica!

Graças aos avanços da tecnologia nós lemos mais do que nunca. O nosso cérebro processa milhares de palavras seja através de sms, e-mails, jogos, notícias, posts de amigos nas diferentes redes sociais ou fruto de pesquisas na internet. De acordo com um estudo recente, a quantidade de pessoas que lêem triplicou entre 1980 e o final dos anos 2000, e muito provavelmente podemos afirmar que a tendência continua a aumentar actualmente. Mas à medida a que enfiamos mais e mais palavras nas nossas mentes, a forma como lemos essas mesmas palavras mudou radicalmente: o papel tornou-se ultrapassado e passámos a ler quase exclusivamente em ecrãs.

Claro que não há uma resposta simples para a guerra “papel versus ecrã”. Até porque estão envolvidas demasiadas variáveis para a resposta ser simples, nomeadamente: o tipo de meio de que estamos a falar (papel, e-book, computador portátil, iPhone, etc), o tipo de texto (estando “Fifty Shades Of Grey” num polo e o “Guerra e Paz” no outro, por exemplo) e se são nativos digitais, ou não, entre muitos outros factores obviamente. Mas muitos investigadores afirmam que a leitura em ecrãs incentiva um estilo particular de leitura chamado “não-linear” ou, numa expressão mais popular, “ler na diagonal”. Ou seja, estamos a ler só que sem atenção nenhuma.

Um estudo de 2005, conduzido por Ziming Liu, (da San Jose University) olhou para as mudanças no comportamento dos leitores na última década. E Ziming encontrou um padrão muito interessante: “os leitores que dão preferência aos ecrãs demonstram gastar mais tempo em navegação e digitalização, na procura intensiva de palavras-chave, em leituras únicas (ou seja, que não se repetem no futuro), em leituras não-lineares e leituras mais selectivas”.

Resumindo: tendo em conta a informação (aparentemente) infinita, os links, vídeos, imagens e publicidade exigindo constantemente a nossa atenção nós adaptámos a nossa leitura tornando-a exequível face a todas estas “distracções”. Mas esse estilo de leitura pode trazer consequências. Liu observou que a atenção continuada parece diminuir quando as pessoas lêem num ecrã, em vez do tradicional papel, e que as pessoas acabam por gastar muito menos tempo na leitura em profundidade.

Um outro estudo (realizado por Rakefet Ackerman da Technion-Israel Institute of Technology) também apoia a teoria de que o papel provoca menos distracções aos leitores do que os computadores. Os investigadores descobriram que quando as pessoas lêem curtas obras, de não-ficção, num ecrã a sua compreensão do texto acaba por ser prejudicada. Porquê? Basicamente porque as pessoas gerem mal o seu tempo em comparação com quando lêem no bom e velho papel.

A leitura não-linear pode trazer consequências, especialmente para aquilo que os investigadores chamam de “leitura em profundidade”. A leitura em profundidade requer concentração, foco e atenção máximas, tudo características essenciais para compreender na totalidade certas obras. Ora “ler na diagonal é bom para os emails ou para as sms, mas não para certos tipos de leitura”, e quem o afirma é Maryanne Wolf neurocientista cognitiva da Tufts University.

Mas e os e-books? Num Kindle, por exemplo, não temos de lutar para manter a concentração pois o mesmo está muito próximo do papel. A qualidade de imagem é excelente, os livros são baratos (na maior parte das vezes a diferença de preços compensa comprar a versão digital) e os preços dos próprios e-books têm vindo a descer progressivamente. Contudo, apesar de tudo isto, o papel ainda leva vantagem. E tudo devido…à sua forma física. O facto de podermos tocar no papel pode ajudar as pessoas a processar determinadas informações quando se encontram a ler. E isso pode ser perdido quando nos rendemos aos ecrãs.

Apesar dos benefícios aparentes do papel, muitos investigadores alertam para as nuances da disputa entre o papel e o ecrã. E tudo porque ainda existem factores que têm de ser devidamente estudados e analisados. A verdade é que não existe uma resposta universal. Cada caso é um caso e cada um é como cada qual, logo não existe apenas uma resposta para esta batalha sangrenta.

Eu, pessoalmente, prefiro ler em papel do que num ecrã. No entanto também leio em ecrãs (estava bem tramado se não o fizesse), obviamente. Mas se me for permitido escolher dou, e acho que darei sempre, preferência ao papel. Basicamente ainda faltam alguns anos para percebermos esta questão na sua totalidade.

E o estimado leitor: prefere ler em papel ou num ecrã? Seja qual for a sua resposta o importante é que leia. Leia o mais possível e, em caso de dúvida, privilegie a qualidade da obra. Afinal de contas a qualidade será sempre mais importante que a quantidade.

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