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Insónias

insónia

Sofre, de forma regular ou esporádica, de insónias? Se a sua resposta foi positiva vai rever-se na experiência descrita neste texto. Se por ventura a sua resposta foi negativa, digo-lhe desde já duas coisas: em primeiro lugar que tenho inveja de si por nunca ter tido insónias e conseguir adormecer sempre que quer e bem entende, e em segundo lugar que estou certo de que os restantes leitores também têm inveja sua. Este é um texto que relata uma experiência-limite por que passei esta semana e onde uma insónia foi a protagonista.

A verdade é que é terrível sofrer de insónias. Felizmente eu sofro apenas de forma muito esporádica (tão esporádica que esta foi possivelmente a minha terceira ou quarta insónia em vinte e três anos de vida). E ainda bem que assim é, atenção! Não estou, de todo, a queixar-me da pouca frequência com que sou brindado com a visita das insónias!

Primeira questão: porque raio só temos insónias quando mais precisamos de dormir ou quando temos afazeres importantes no dia seguinte? Dá a sensação que é de propósito. Que é só para maçar. Do tipo: “ah, mas tu queres dormir? Querias dormir, porque como eu apareci agora já não dormes. Quer dizer, dormir até dormes, mas menos porque antes de adormecer vais ter de dar cerca de 13453 voltas na cama!” É o tipo de coisas que só acontece para arreliar, e como diz o ditado “não mata, mas mói”.

Este foi o cenário da minha mais recente insónia. Ainda antes das 23 horas já eu estava deitado. O dia seguinte seria o primeiro dia do meu estágio, ou seja, era importante dormir bem e descansar o mais possível para que tudo corresse pelo melhor e a cabeça estivesse fresca logo pela manhã! Depois de tudo devidamente desligado e arranjado para o dia seguinte decido então, finalmente, deitar-me.

Viro-me para o meu lado direito, aconchego-me e preparo-me para dormir. Encaixo a cabeça na almofada e fecho os olhos. Respiro fundo e penso na importância do dia que se avizinha.

Passados os tradicionais segundos que costumo demorar a adormecer….continuava acordado.

E isso não me agradou porque era sinal que o sono estava a demorar a chegar. Respiro novamente fundo e encaixo ainda mais a cabeça na almofada. E espero. Mas nada. Não só não tinha sono como a minha mente registava mais acção e energia que durante boas partes do dia.

Pensei então no quão estúpido era o facto de serem horas de dormir para toda uma população portuguesa…menos para o meu cérebro que, nitidamente, estava em “modo festa”. Viro-me para o outro lado. Volto a aconchegar-me na almofada. Penso no quão fria estava aquela metade da almofada em comparação com a outra na qual já tinha passado uns bons minutos encostado. Apercebo-me que aquilo que acabei de pensar não fez qualquer sentido e no tempo que estou a perder com pensamentos inúteis, tempo esse que podia ser ocupado a…dormir!

Penso no tempo que já terá passado desde que me deitei. Olho para a mesa-de-cabeceira que se encontra no lado oposto para o qual estou agora virado e apercebo-me da passagem de praticamente vinte minutos. Vinte minutos de sono perdidos e nem um bocejo. Começo então a pensar na razão para não ter sono. O dia foi recheado de afazeres e emoções e até escrevi uma crónica, logo deveria de estar cansado. Nem sequer bebi café ou qualquer outra bebida energética que pudesse ter dado uma súbita energia. Nada disto faz sentido. Devia de estar a dormir profundamente vai para meia hora e em vez disso estou aqui a fazer um resumo do dia.

Começo a procurar algo, ou alguém, a quem atribuir as “culpas”. Um dos operadores nacionais de televisão por cabo é o primeiro da lista. Porquê? Podia ser pela excelente oferta de canais e internet que me pudesse prender à televisão e/ou computador roubando-me assim preciosas horas de sono. Mas tal justificação não podia estar mais longe da verdade. Desde que há umas semanas mudei de operadora passei a ter no meu quarto uma box e o rooter da internet em cima da minha secretária e vocês nem imaginam a luz que sai daquelas caixas. Durante o dia é apenas uma inocente luz, pequena e fraca que ali está e que em nada perturba a nossa rotina.

Mas durante a noite, quando tudo se apaga imerge da escuridão uma luz equivalente a um holofote de um estádio de futebol! Aquilo é a Caixa de Pandora meus senhores! A luz é tão forte que uma destas noites quando abri os olhos durante a noite pensei estar a sonhar que era um astronauta a aterrar na superfície do sol!

Depois de ter sido decidido quem era o culpado da insónia continuava a faltar um pequeno detalhe: o sono. Quarenta e cinco minutos já tinham sido perdidos e então eu jogo a minha última cartada: contar carneiros. Eu sei, é um cliché dizer que para que o sono venha basta começarmos a contar carneiros, mas eu estava desesperado e naquela altura da noite já estava disposto a tentar tudo. Começo a contar carneiros. Um. Dois. Três. Quatro. Cinco.

E o sono nada. Nem um bocejo. Decido tentar completar a cena fechando os olhos e imaginando os carneiros a saltar uma vedação imaginária, como se estivessem aos saltos num prado verdejante. Seis. Sete. Oito. Nove. Dez. Apercebo-me do quão ridículo é um individuo de vinte e três anos estar a contar carneiros e a imaginá-los a saltar por uma vedação imaginária quase à meia-noite. Começo-me a rir quando penso que os carneiros devem detestar aquela “profissão” e que podiam dominar o mundo (privando-nos do sono) se se unissem, criassem um sindicato e se revoltassem. Imagino um mundo dominado por carneiros. Onze. Doze.

Treze. Catorze. Quinze. Bem, a verdade é que existem poucas diferenças entre Cavaco Silva e um carneiro (dica: para que a piada política resulte melhor basta trocar o nome do político em causa por outro que não seja do seu especial agrado). Dezasseis. Dezassete. Dezoito.

Dezanove. Vinte.

Sem que eu me tivesse apercebido o sono tinha chegado. Os carneiros tinham funcionado e o sono já ali estava. É certo que me fez perder uma hora de descanso, mas ao menos apareceu antes de dar em doido, perdido entre todos aqueles carneiros. É preciso é ver o copo meio cheio…

Boa semana.

Boas leituras.

E já agora, poucas insónias.

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