“Já venci”, afirma Edward Snowden, seis meses após ter divulgado as primeiras informações sobre os procedimentos da Agência Nacional de Segurança dos EUA. “A minha missão está cumprida”, salienta o ex-analista, ainda sob asilo temporário na Rússia.
Há meio ano, alguns procedimentos adotados pela Agência Nacional de Segurança (NSA, na sigla original) dos EUA foram revelados publicamente por um antigo funcionário: Edward Snowden. O ex-analista de dados, que se encontra na Rússia sob asilo temporário, dá-se por “satisfeito” ao ter cumprido “a missão” de expôr os programas de vigilância em massa conduzidos na internet e sobre as comunicações telefónicas.
“Em termos de satisfação pessoal, a minha missão está cumprida. Eu já ganhei. Como os jornalistas puderam trabalhar, tudo o que eu estava tentando fazer acabou por ser validado. Eu não queria mudar a sociedade, eu queria era dar à sociedade a oportunidade de decidir se queria mudar-se a si mesma”, explicou Snowden, numa entrevista ao The Washington Post.
Na primeira vez que aborda o assunto desde que a Rússia lhe concedeu asilo temporário, o ex-analista da NSA – que a Justiça norte-americana quer acusar dos crimes de espionagem e roubo de informação de propriedade do Governo – assegura que nada o move contra a agência: “não tento derrubar a NSA, trabalho para melhorar a NSA. Ainda hoje estou trabalhando para a NSA, mas eles são os únicos que não percebem”.
“O sistema fracassou amplamente e cada nível de supervisão, cada nível de responsabilidade que deveria ter abordado isso, abdicou dessa responsabilidade”, criticou Snowden, alegando que só revelou os procedimentos de vigilância em massa quando se apercebeu de que os legisladores pretendiam manter os programas ocultos.
A resposta do “sistema” tem sido dada lentamente. A mais recente teve como protagonista o próprio Presidente dos EUA. Na última sexta-feira, Barack Obama afirmou que o debate sobre as funções da NSA deve ser público, nomeadamente quanto aos limites face à proteção do direito à privacidade, e prometeu para janeiro “uma declaração bastante definitiva” sobre o futuro da agência.
A declaração do chefe de Estado ocorreu depois de um juiz federal considerar, publicamente, que a vigilância exercida pela NSA sobre as comunicações telefónicas de praticamente todos os norte-americanos é “provavelmente inconstitucional”. Ainda antes disso, um grupo de especialistas (designado pela Casa Branca) recomendou a limitação das competências da NSA, depois da agência ter ido “longe demais” nas atividades com que procura combater o terrorismo.
A entrevista, em Moscovo, foi conduzida por Barton Gellman, um dos jornalistas que analisou as primeiras informações divulgadas pelo ex-analista, em junho. Foram “praticamente dois dias de conversa ininterrupta” com um foragido à Justiça dos EUA que se mostrou “tranquilo e animado”, descreveu Gellman.