Quatro canais foram encerrados, no Egito, por decisão judicial. Os tribunais sustentam que as televisões, uma das quais da da Irmandade Muçulmana, difundem as notícias com uma visão parcial e dificultam a “unidade nacional” numa altura em que o país continua perto da guerra civil.
“A revolução não será televisionada” – o título do documentário sobre o golpe de Estado de 2002 na Venezuela ilustra a vontade da Justiça egípcia, que mandou encerrar quatro canais televisivos, todos islamitas. A ordem de fecho, decretada ontem pelo Tribunal Administrativo, foi baseada pelo alegado incitamento ao ódio, através da parcialidade na edição das notícias, contra os cristãos coptas e os liberais.
O encerramento da Ahrar 25 (da Irmandade Muçulmana), da Al-Jazira Mubasher Misr (sucursal da Al-Jazira, do Qatar), da Al-Quds e da Al-Yarmouk surge poucas semanas depois da deposição de Mohamed Morsi, o primeiro Presidente ligado à Irmandade Muçulmana eleito na sequência da ‘Primavera árabe’, e de uma entrevista ex-chefe de Estado à Al-Jariza em que explicava ser o Presidente “legítimo”.
Na sequência da deposição de Morsi (a 3 de julho) e da nomeação – pelos tribunais – de um novo Presidente, o Egito ficou perigosamente perto de uma guerra civil. A cobertura noticiosa dos muitos confrontos que se têm sucedido motivou a acusação de parcialidade, com a Justiça a dar provimento para justificar o encerramento dos quatro canais islamitas.
A decisão pode complicar a missão do atual regime de proceder à “unidade nacional”. Os apoiantes de Morsi agendaram para hoje um novo protesto, na praça Rabaa al-Adawiya (Cairo), o que levou o exército a fortificar um perímetro com arame farpado e a posicionar blindados nas imediações da praça. Na última grande manifestação aí realizada, a 14 de agosto, morreram centenas de pessoas devido aos confrontos entre as forças do atual e do antigo regimes.
Os confrontos têm escalado depois das autoridades anunciarem que Morsi, que continua preso, será julgado por incitamento à violência e ao assassínio de opositores políticos: caso seja culpado, pode ser condenado à morte.