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Douro inicia vindimas e estima aumento de produção de 30%

O Douro está a iniciar as vindimas e prevê um aumento de produção na ordem dos 30 por cento nesta campanha, mas na região verificam-se cada vez mais dificuldades em recrutar mão-de-obra para o trabalho na vinha.

A vindima culmina um ano de trabalho e é considerada a época alta da mais antiga região demarcada e regulamentada do mundo. As vinhas enchem-se de vindimadores e a região de turistas que querem ver e até participar no corte das uvas.

A Quinta do Vallado, no concelho de Peso da Régua, distrito de Vila Real, foi uma das primeiras da região a arrancar com a vindima. Primeiro cortam-se as uvas brancas, seguindo-se, dentro de dias, as uvas tintas.

A propriedade possui uma equipa que trabalha o ano inteiro e, nesta altura, recorre também aos empreiteiros agrícolas e contrata diretamente pessoas das aldeias próximas.

Francisco Ferreira, responsável pela gestão agrícola e de produção do Vallado, assinalou a mão de obra como “uma dificuldade” e referiu que se nota que, de ano para ano, mais pessoas saem da região e menos querem trabalhar na agricultura.

Com o aumento estimado da colheita, na ordem dos 30 por cento em toda a região demarcada, as carências de mão-de-obra poder-se-ão também intensificar.

Fátima Carvalho, com 63 anos, trabalha para a Agropenaguião, uma empresa que fornece mão-de-obra para as atividades agrícolas. É de Ancede, em Baião, e disse à agência Lusa que se levanta às 03:30 para se preparar, fazer a merenda e apanhar a carrinha para viajar para o Douro.

“Fui sempre habituada na agricultura e já não me custa nada. Não consigo estar em casa”, contou.

António Costa tem 56 anos, é de Barrô, no concelho de Resende, levanta-se todos os dias às 05:00 e regressa a casa por volta das 19:00.

Este trabalhador coordena os vindimadores do empreiteiro na Quinta do Vallado e disse também que “é cada vez mais difícil arranjar mão-de-obra no Douro”, principalmente nestas alturas em que o trabalho se intensifica.

“O pessoal novo não quer e são os mais antigos que aqui andam. Vê-se pouca juventude na vinha”, referiu.

Verónica Cardoso é trabalhadora afeta à Quinta do Vallado, tem 26 anos, é natural de Santo Xisto e uma das mais novas que estava nesta vindima, garantindo que gosta de “trabalhar na vinha e ao ar livre”.

“Nasci no meio das vinhas e acabei por ficar por cá”, frisou.

Maria Lucília, 64 anos e natural de Loureiro, na Régua, faz vindimas desde que era pequena e sublinhou “que não custa nada” e que gosta do corte das uvas.

Este é um trabalho sem teto e, por isso, é com naturalidade que estes vindimadores enfrentam o calor intenso que se sente por estes dias no Douro.

Segundo dados revelados pelo Instituto da Vinha e do Vinho (IVV), no Douro espera-se uma produção na ordem dos 1,6 milhões de hectolitros de vinho, enquanto no ano passado foi de 1,3 milhões de hectolitros. O aumento será na ordem dos 30 por cento face ao ano anterior e de 16 por cento relativamente à média dos últimos cinco anos.

Francisco Ferreira disse que na Quinta do Vallado se prevê um aumento da produção de cerca de 10 por cento comparativamente com 2018, no entanto ressalvou que, no ano passado, a quebra aqui também foi “pouco significativa”.

O responsável referiu que em termos quantitativos, este será um “ano ligeiramente acima da média” e explicou que, por causa da pouca chuva, o bago está um pouco pequeno, no entanto esse fator poderá dar “alguma concentração e qualidade à uva”.

“Em termos sanitários foi um ano bom, praticamente sem problemas”, frisou.

De acordo com o IVV, na região de produção de vinho do Porto e do Douro o “míldio manifestou-se de forma pouco intensa, não afetando de uma forma geral, a produção”.

O instituto referiu ainda que “as condições climáticas verificadas, com destaque para o mês de junho, com humidade relativa elevada e dias encobertos, contribuíram para a propagação do oídio, mas sem impactos significativos na produção”.

Em contrapartida, no ano passado verificaram-se situações de granizo, míldio e escaldão, o que se refletiu na produção final.

Em todo o país, de acordo com o IVV, estima-se que a produção de vinho na campanha 2019/2020 atinja um volume de 6,7 milhões de hectolitros, o que se traduz num aumento de 10 por cento relativamente à campanha 2018/2019 e 4 por cento em relação à média dos últimos cinco anos.

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