Representantes da Deco – Associação de Defesa do Consumidor, são ouvidos no Parlamento hoje, em comissão parlamentar de Agricultura, que tem como finalidade prestar esclarecimentos sobre os efeitos da carne de cavalo nos produtos alimentares. A audição foi pedida pelo PCP, que teme “um grave problema de saúde” por detrás de uma “fraude económica.
A Deco participa nesta terça-feira numa comissão parlamentar de Agricultura, que foi pedida pelo PCP, para prestar esclarecimentos sobre os efeitos na saúde da fraude económica que foi descoberta, com a venda de carne de cavalo em diversos produtos alimentares de alguns países da Europa, entre os quais Portugal.
O PCP, no requerimento apresentado para pedir esta audição parlamentar, dá conta da sua preocupação. “Por detrás de uma fraude económica, pode descobrir-se um grave problema de saúde pública e o Governo deve prestar esclarecimentos sobre esses assuntos”, assinalam os comunistas.
Este esclarecimento aos deputados sobre o caso da carne de cavalo – com a presença do secretário de Estado da Alimentação e Investigação Agroalimentar – não será uma ação isolada. O PCP quer mais audições, não apenas com a Deco, para perceber a dimensão do problema e que tipo de efeitos poderá acarretar para a saúde humana, numa fraude que pode não se limitar à carne de cavalo.
O que se esconde por detrás de um rótulo? Que medidas de controlo alimentar são realizadas, na defesa do consumidor? Estas e outras questões serão colocadas na audição parlamentar de hoje e em ações posteriores, que contarão com a presença de responsáveis da ASAE e do Laboratório Nacional de Investigação Veterinária.
O PCP quer esclarecimentos também sobre alegadas “informações contraditórias”, que davam conta da inexistência de produtos contendo carne de cavalo em Portugal, o que mais tarde foi desmentido.
No requerimento, o PCP alerta ainda para a necessidade da marcação urgente da audição com, requerida pelos comunistas e que foi aprovada em dezembro, a propósito dos atrasos no pagamento às associações de produtores pecuários dos valores referentes à sanidade animal.
Recorde-se que a Deco alertou recentemente para alegados perigos da carne picada que é comercializada nos talhos, bem como nos preparados de carne pré-embalados.
Este aviso da Associação de Defesa do Consumidor provocou a reação da Associação Portuguesa dos Industriais de Carnes (APIC), que lamentou, em declarações à agência Lusa, que “notícias bombásticas” coloquem em causa o setor.
Laurentina Pedroso, diretora-executiva da APIC, salienta que o estudo da Deco resulta de uma amostragem muito pequena, que não pode confundir-se com a realidade das carnes em Portugal. “Está instalada uma grande confusão”, acusa, considerando que os consumidores estão a ser informados sem rigor.
“Estas notícias bombásticas são prejudiciais para o país e, principalmente, para o consumidor. A Deco baseia o seu estudo numa amostragem mínima de talhos da Grande Lisboa e Porto, que não refletem a realidade do país”, salienta aquela dirigente, defendendo a elevada qualidade das carnes vendidas em Portugal.
A responsável da APIC, que acumula o cargo de bastonária da Ordem dos Médicos Veterinários, destaca o processo de fiscalização rigorosa a que as carnes portuguesas são sujeitas, antes de chegarem ao consumidor.
“Há que esclarecer o consumidor de que há legislação apropriada”, sublinha Laurentina Pedroso, destacando que “tudo é fiscalizado, produzido com rigor”, dentro das mais apertadas normas europeias.
“A situação dos talhos é pontual e não deve ser extrapolada para um nível nacional e para o que é o trabalho da indústria que produz a maioria dos produtos de carne e preparados de carne”, acrescenta Laurentina Pedroso, em declarações à Lusa.
A pesquisa da Deco aconselhou os consumidores a não comprarem carne picada vendida a granel, devido à presença detetada em algumas amostras de carne, que apresentaram microrganismos potencialmente perigosos.
Apesar de lamentar o facto de o estudo poder suscitar dúvidas no consumidor, aquela responsável destaca um aspeto positivo: transmitir aos talhos a mensagem de que as entidades estão atentas à qualidade das carnes. O caso vai ser agora discutido na Assembleia da República, em comissão parlamentar.