Por mais que um músico ou cantor ame o que faz tem sempre como objectivo ganhar prémios (nacionais e/ou internacionais) e ver o seu trabalho reconhecido e recompensado. E isso é perfeitamente normal, e até saudável, e existe não só nos músicos mas em todas as áreas e ainda bem que assim é. E nós, público, aceitamos isso com a maior das naturalidades porque sabemos que se aquele músico/cantor ou banda está a vencer aquele prémio é porque é merecido. É porque o público, ou um júri profissional, achou que seria o justo vencedor. E acima de tudo porque sabemos que os prémios são raros, existem poucos e desses ainda menos são verdadeiramente importantes e prestigiantes. O que aconteceria se este paradigma se alterasse por completo e começassem a surgir prémios debaixo de cada pedra da calçada? Deixariam de ter importância porque a partir desse momento, literalmente qualquer um, passaria a ganhar um, ou vários, prémios e distinções. Pois ficam a saber que é assim que funciona no Canadá.
“Ah, mas sendo assim quantos prémios e cerimónias existem no Canadá?” Ficam a saber que eu parei de contar aos 50, isto sem incluir galas que homenageiam “a arte” no seu todo (e onde obviamente também há espaço para a música). Começamos pelos mais importantes prémios do Canadá. São os mais desejados e simultaneamente os mais prestigiantes: falo dos Juno Awards. Têm direito a transmissão televisiva e conseguem atrair grandes músicos/bandas canadianas mas também profissionais de renome a nível mundial. Mas nem tudo são elogios, isto porque os Juno Awards têm uma impressionante soma de 44 categorias. Sim, quarenta e quatro. De âmbito nacional temos também os Casbys e os Canadian Independent Music Awards.
E depois começa o sem-fim de prémios locais e/ou regionais: Western Canadian Music Awards; East Coast Music Awards; Vancouver Island Music Awards; Prince Edward Island Music Awards; Music Nova Scotia Awards; Music New Brunswick Awards; Felix Awards (Quebec); Quebec Independent Music Awards e ainda os Niagara Music Awards. Mas caso ainda esteja insatisfeito não pense que acabou a “oferta” porque existem um número impressionante de prémios locais que ainda pode almejar conquistar, como por exemplo o Edmonton Music Awards, o Calgary Music Awards, o Vancouver Music Awards, o Hamilton Music Awards ou o London Music Awards.
Já estão cansados? Então respirem fundo e preparem-se para o poço sem fundo que são os prémios dentro das especialidades musicais, nomeadamente a música country: Canadian Country Music Awards; Northern Ontario Country Music Awards; Saskatchewan Country Music Association Awards; Alberta Country Music Awards; British Columbia Country Music Awards e ainda os Country Music Association Of Ontario Awards. Mas se a vossa onda não é bem a música country, podem sempre recorrer à Canadian Reggae Music Awards, à Canadian Folk Music Awards, à Covenant Awards, ao Polaris Prize ou à Canadian Urban Music Awards.
Mas agora perguntam vocês, e com razão: “Mas então e os restantes profissionais do sector da música? Só as bandas e os músicos é que são galardoados?” Nota-se mesmo que vocês não estão familiarizados com a realidade do Canadá. Existe, por exemplo, o Canadian Music And Broadcast Industry Awards com categorias tão fulcrais como “Bloguer do ano” e os seus dez nomeados. Sim, dez! Mas falta ainda referir os Socan Awards, os Much Music Video Awards, os Prism Prize e ainda os Canadian Radio Music Awards.
Eu sei que a este ponto já se tornou patético. Contudo não pensem que já acabei. Então e os “Hall of Fame”? Ah pois é, tinham-se esquecido. Atenção ao detalhe: “os”. Porque como faz todo o sentido, já que é para homenagear toda uma carreira que seja através de várias cerimónias diferentes e sem qualquer relação entre si. Existe o Canadian Music Hall Of Fame, o Canada’s Walk Of Fame, o Canadian Country Hall Of Fame, o Ottawa Valley Country Music Hall Of Fame, o Nova Scotia Country Music Hall Of Fame, o Manitoba Country Music Association Hall Of Fame, o British Columbia Country Music Hall Of Fame, o Canadian Songwriters Hall Of Fame e até o Canadian Music Industry Hall Of Fame.
Se as minhas contas não falharam só neste artigo foram referidas 42 cerimónias, e atenção que este número peca apenas por escasso. A partir do momento em que “toda a gente” (neste contexto não é apenas uma expressão mas sim a realidade) está nomeada para um prémio ou ganha efectivamente um, então esse acto perde todo o seu significado. Eu não faço ideia da forma que esta multiplicação de prémios é interpretada pelos cidadãos do Canadá, mas o número é tão absurdo que dá é vontade de dizer que as bandas/músicos verdadeiramente valorizados são aqueles que nunca ganharam um único prémio. Se toda a gente ganhou um, então não ter ganho um é que se torna motivo de orgulho.
Ainda bem que em Portugal a “febre dos prémios” ainda não atingiu a indústria da música (ou qualquer outra para ser sincero). E esperemos que esse dia nunca chegue sob pena de as consequências negativas serem em maior número do que as positivas.
