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A “síntese” de Santana Lopes: Não aceitar que os idosos esperem “o dia da partida”

santana lopesHá dois anos como provedor da Misericórdia de Lisboa, o ex-primeiro-ministro Santana Lopes garante estar “realizado”, traça a investigação como aposta para a instituição, elogia a “boa relação” com o presidente da Câmara e a “forma invejável” de Mário Soares.

O político que prometeu “andar por aí” é, ao fim de dois anos como provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), um homem “realizado”. Santana Lopes, antigo primeiro-ministro, traça o balanço dos dois anos à frente de “uma casa complexa” e descarta, numa entrevista à agência Lusa, a possibilidade de “andar por aí” na política nacional.

Numa “sintese rápida” aos dois anos na SCML, o provedor assume que a “grande preocupação” com que entrou em funções foi “apreender bem a cultura da casa”, justificando-se: “não acredito que se lidere uma instituição como esta remando contra a sua matriz. É uma instituição com 515 anos, portanto, são dois anos em 515”.

“Dois anos” em que Santana Lopes tentou aproveitar o “trabalho permanente” para o adaptar aos “tempos atuais”: “já houve provedores de muitas maneiras de ser, com diferentes percursos. Eu julgo que talvez tenha esta vantagem de saber relacionar a Santa Casa com as universidades, com outros poderes públicos e privados em Portugal e associá-la a projectos que nunca se envolveu como, por exemplo, na área da investigação”.

Quando a SCML “tem tantos velhinhos a seu cargo”, a aposta torna-se óbvia. “Tem de investigar e apoiar quem investiga”, aponta o provedor, deixando algumas questões em aberto: “não investiga na área das doenças neurodegenerativas? Se tem um centro como Alcoitão, com pessoas paraplégicas, tetraplégicas e com outras limitações físicas, não se investiga? Não se procura a cura para essas lesões vertebromedulares?”

“Talvez tenha vindo para esta casa, nesta altura, com esta missão de a modernizar, nomeadamente no seu funcionamento interno, e saber relacionar-se melhor com o mundo exterior”, respondeu o provedor que criou as primeiras bolsas da SCML para investigadores portugueses, de 400 mil euros anuais.

“As coisas não acontecem inteiramente por acaso”, considerou Santana Lopes, que prefere os sinais de “esperança” para uma instituição que apresenta uma “imagem de tristeza”. “Como provedor, tenho trabalhado no sentido de não aceitar que as pessoas de mais idade estejam em lares à espera do dia da partida”, garantiu.

“A vida tem de ter um sentido para nós próprios e eu, que já exerci várias funções públicas, entendi que a melhor maneira de servir, neste momento, era vir para uma casa onde ia estar ao pé de situações muito difíceis”, afirmou o ex-primeiro-ministro, reconhecendo que, “às vezes é duro, é difícil lidar com isto no dia-a-dia, mas interiormente achei que era o que devia fazer”.

Santana Lopes nomeou dois exemplos a quem a idade não retira essa capacidade de “servir”: Mário Soares e Maria Barroso: “com a idade que têm estão numa forma invejável”. “Hoje em dia pode achar-se as intervenções do dr. Mário Soares às vezes mais polémicas”, admitiu, “mas polémicas são quase sempre. Ainda bem, é bom sinal, que está vivo”.

Outra figura socialista a receber elogios do antigo líder do PSD foi António Costa, o presidente da Câmara de Lisboa com o qual o provedor da SCML mantém “uma excelente relação”: “o próprio dr. António Costa diz que, que se lembre, nunca houve uma tão boa relação”.

Questionado sobre a eventualidade desta passagem pela SCML ser um intervalo na carreira política, Santana Lopes assumiu estar “realizado”. “É aqui que quero continuar, é aqui que me sinto bem, sinto-me realizado”, confessou um provedor que aguarda pelo segundo mandato: “aquilo que estou a fazer aqui é impossível uma pessoa ficar satisfeita e dar o seu trabalho concluído só com um mandato”.

Na mesma entrevista de balanço dos dois anos à frente da SCML, o provedor reafirmou a intenção de transformar o edifício da Maternidade Alfredo da Costa numa “academia de saúde”, o que tem demorado: “não podemos esperar indefinidamente e, com franqueza, ainda não tenho a certeza do destino que vai resultar de todo este imbróglio que tem existido”.

“A Santa Casa substitui-se ao Estado, mas não se pode substituir de um modo ilimitado, porque senão isso seria desvirtuar um pouco a missão ou atingir o trabalho da Santa Casa, porque nós não temos recursos ilimitados”, acrescentou o provedor, desabafando que a instituição começa a lidar com “trabalho a mais”.

Como exemplo, Santana Lopes avançou que o Estado passou 35 equipamentos para a gestão da SCML, há três anos, que agravaram o orçamento em 22 milhões de euros por ano.

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