Um grupo da sociedade civil da Argélia apelou hoje para que se vá “além da Constituição”, considerando que o processo interino posto em prática após a demissão do Presidente Abdelaziz Bouteflika foi um “nado-morto”.
Depois de terem conseguido a 02 de abril a demissão do chefe de Estado, os contestatários argelinos continuam a manifestar-se todas as sextas-feiras contra o sistema no poder, desafiando Abdelkader Bensalah, burocrata de 77 anos que acompanhou Bouteflika e que se tornou presidente interino no quadro do processo constitucional.
Juntas no “Coletivo da sociedade civil argelina para uma transição democrática e pacífica”, 28 organizações não-governamentais e associações realizaram a sua primeira reunião nacional no sábado.
“O sistema interino constitucional instaurado a 02 de abril sob impulso do estado-maior do exército é um processo nado-morto”, consideraram numa declaração divulgada hoje à agência France Presse e assinada pelos 28 membros do grupo.
Em consequência, “impõe-se naturalmente ir além da Constituição para ir ao encontro dos novos atores no espaço público”, afirmaram.
Apelam ainda a um diálogo entre “o poder político e o conjunto dos atores” da sociedade civil para se conseguir um “calendário final para a transição”, defendendo que “não pode haver eleição presidencial a 04 de julho”, como prevê a Constituição.
A Liga Argelina para a Defesa dos Direitos Humanos, a União Ação Juventude, a Associação Djazairouna (Nossa Argélia), o Sindicato Nacional Autónomo do Pessoal da Administração Pública e o Sindicato Nacional dos Profissionais de Saúde Pública são alguns dos membros do coletivo.
Há dois dias, os argelinos voltaram a manifestar-se no centro de Argel pela 10.ª sexta-feira consecutiva, com milhares a gritarem “Fim do sistema” ou “Ladrões, roubaram o país”, segundo a AFP.
A população mobilizada recusa que as estruturas e figuras do aparelho herdado de Bouteflika organizem a eleição presidencial marcada para 04 de julho, considerando que não podem garantir um escrutínio livre e justo.