A guerra na Ucrânia, elevada a um confronto económico entre a Rússia e os EUA e a Europa, vai ser aproveitada pelos gigantes da América do Sul. Argentina e Brasil querem aproveitar o embargo dos russos às exportações para aumentarem as vendas num dos maiores mercados da Ásia.
Na ‘troca’ de embargos entre a Rússia e o ‘bloco ocidental’, formado pela União Europeia e pelos Estados Unidos, quem pode sair a ganhar são as maiores economias da América do Sul.
Devido à guerra civil no leste da Ucrânia, o ‘ocidente’ decretou sanções económicas sobre a Rússia, que respondeu com um embargo às exportações oriundas da Europa e dos EUA. Argentina e Brasil querem ocupar esse vazio, em especial no setor alimentar.
“A Rússia tem uma procura significativa de alimentos e a Argentina pode fornecê-los”, revelou Jorge Capitanich, o chefe de gabinete do Governo do país sul-americano.
De acordo com o governante, a Argentina vai “criar condições para que o setor privado, com o impulso do Estado, possa incrementar as exportações e satisfazer a procura do mercado russo”.
Ainda no mês passado, os Presidentes da Rússia e da Argentina, Putin e Kirchner, assinaram um acordo de “aliança estratégica” que visava a cooperação e o intercâmbio comercial.
Só em 2013, o comércio entre os dois países cresceu 30 por cento, passando dos 1989 milhões de dólares (em 2012) para os 2627 milhões.
Depois de ter incluído o Brasil na lista dos países embargados, a Rússia levantou as sanções sobre 89 empresas exportadoras de carne, assim como 18 de processamento de pescado no Peru.
A porta abriu-se para as exportações brasileiras, o que poderá trazer consequências nefastas para o mercado interno, como explicou o vice-presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal, Ricardo Santin.
“Um porco, por exemplo, leva entre oito e dez meses até estar pronto para o consumo. Um frango precisa de 45 dias. Se a procura aumenta, o preço da carne no Brasil pode subir também”, alertou, numa entrevista ao jornal espanhol El País.
As duas maiores economias sul-americanas poderão ser ‘imitadas’ pelas de menor dimensão. O Chile já fez saber, através de Juan Eduardo Eguigurem (o embaixador na Rússia), que o país está disponível para aumentar as exportações de carne de porco e frango, peixe, verduras e frutas.
Outro embaixador na Rússia, Patricio Chávez Zabala, revelou que o Equador já propôs melhores condições no transporte aéreo para banana, atum, café, brócolos, frutas tropicais e produtos lácteos (leite condensado e queijos).
O Uruguai, através de Aníbal Cabral Segarleba, vai apostar nas exportações de carne bovina e tentar vender gado vivo. Ainda segundo o embaixador, a Rússia demonstrou interesse na compra de produtos do mar, queijo, frutas cítricas, maçãs, peras e vegetais em geral.
Cumpre-se assim uma ameaça de Putin, que prometera responder às sanções económicas do ‘bloco ocidental’ (visando os setores financeiros, tecnológicos e petrolífero) com um embargo às exportações.
“Com o objectivo de proteger os interesses nacionais da Federação da Rússia, ordeno a interdição ou limitação por um ano das importações para território russo de vários tipos de produtos agrícolas, matérias-primas e produtos alimentares” oriundas de países que “decidiram aplicar sanções económicas”, decretou o Presidente da Rússia.