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Genética: Reino Unido aprova manipulação de embriões humanos para estudar o aborto

embriao humanoPela primeira vez, o Reino Unido concedeu uma autorização para a manipulação genética de embriões humanos. A ‘luz verde’ viabiliza uma investigação sobre o desenvolvimento humano e as razões que provocam os abortos que ocorrem nos primeiros sete dias de gestação.

Um passo de gigante para a ciência, um passo de um gigante ainda maior para a polémica: vai haver manipulação genética de embriões humanos no Reino Unido.

As autoridades britânicas concederam a primeira autorização a uma investigação sobre o desenvolvimento humano, partindo da premissa de que a manipulação genética dos embriões permitirá dar respostas a vários enigmas sobre os abortos.

“O Comité de Licenciamento aprovou um pedido de Kathy Niakan, do Instituto Francis Crick, para renovar a licença de investigação e incluir a manipulação de genes em embriões”, revelou a Autoridade de Embriologia e Fertilização Humana (HFEA, na sigla original), em comunicado.

Trata-se da primeira autorização para um processo polémica concedida num país ocidental, meses após a China ter revelado que permitira alterar geneticamente um embrião humano para “corrigir” um gene com um defeito associado a problemas no sangue.

Ao avançar com a notícia da autorização, a BCC lembrou que a manipulação genética de embriões humanos é um tema que ainda levanta muitas objeções, sobretudo no plano ético.

Entre as principais críticas encontra-se a ‘possibilidade’ de criar, geneticamente, um bebé ‘à medida’ dos desejos dos pais.

O que provoca o aborto?

A autorização foi concedida a Kathy Niakan para viabilizar os trabalhos desta investigadora sobre o desenvolvimento humano.

A cientista, que tem abordado em particular os primeiros sete dias da gestação, quer apurar os motivos que levam à ocorrência de abortos.

“Queríamos muito compreender os genes necessários para que um embrião humano se desenvolva com sucesso até ser um bebé saudável. A razão pela qual isto é muito importante é porque os abortos e a infertilidade são extremamente comuns, mas não são muito bem compreendidos”, justificou Niakan.

Os dados atuais demonstram que apenas 13 em cada 100 óvulos fertilizados ‘sobrevivem’ aos primeiros três meses de gestação.

“Estou encantado por a HFEA ter aprovado o pedido de Niakan, cuja investigação é importante para perceber como se desenvolve de forma saudável um embrião humano”, reforçou Paul Nurse, diretor do Instituto Francis Crick: “Vai também melhorar o nosso conhecimento sobre as taxas de sucesso da fertilização ‘in vitro’ ao olhar para o início dos inícios do desenvolvimento humano”.

A HFEA autorização a manipulação dos embriões humanos com uma obrigatoriedade: terão de ser destruídos no final da investigação e jamais poderão ser implantados em mulheres.

“Guiar” o desenvolvimento do feto

As pesquisas orientadas por Kathy Niakan na última década estiveram focadas no período que decorre entre a fertilização do ovo até à blastoderme , uma estrutura que contém entre 200 a 300 células.

É na fase inicial da blastoderme que partes do ADH humano ficam “muito ativas”, explicou Paul Nurse, pois ‘dividem-se’ entre a formação da placenta, do saco gestacional e do próprio feto.

Os estudos com genes manipulados poderão ajudar, no futuro, a “guiar” o desenvolvimento do embrião nesta fase inicial e a prevenir uma eventual interrupção espontânea da gravidez.

Porém, vários cientistas defendem que manipular genes em embriões humanos “é ir longe demais”, contestando esta autorização dada pelo regulador britânico.

“O uso de tecnologias de manipulação do genoma na investigação dos embriões é uma questão muito sensível. Seria bom que esta investigação e as suas implicações éticas fossem devidamente consideradas pelo HFEA antes do regulador aprovar o procedimento”, argumentou Sarah Chan.

“Temos de nos sentir confiantes de que o nosso sistema de regulação nesta área está a funcionar bem, para que a ciência possa manter-se alinhada com os interesses da sociedade”, reforçou esta investigadora da Universidade de Edimburgo.

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