Pedro Santana Lopes elogia Passos Coelho, na crise provocada por Portas. O provedor da Santa Casa da Misericórdia diz, em entrevista ao Diário Económico, que a missão do primeiro-ministro “foi muito difícil” e considera que o líder do CDS decidiu ‘regressar’ ao Governo “pela pátria”. Santana Lopes critica a carta de Vítor Gaspar – foi “de mau gosto” – e não afasta a hipótese de se candidatar à Presidência da República.
Em entrevista ao Diário Económico, o provedor da Santa Casa da Misericórdia, Pedro Santana Lopes, elogiou o modo como o primeiro-ministro lidou com a crise no Governo, que ameaçava a sua queda, depois da demissão de Paulo Portas.
Para Santana Lopes, Pedro Passos Coelho conseguiu empreender uma missão “muito difícil”: convencer Paulo Portas a ficar no Governo, o que evitou eleições antecipadas, com consequências graves para o país.
Santana Lopes – amigo de Paulo Portas há muito anos – acredita que só por uma questão de patriotismo Paulo Portas voltou com a palavra atrás. “Foi muito, mas muito difícil convencê-lo a voltar”, realça o provedor da Santa Casa. O líder do CDS decidiu ficar no Governo “pela pátria”, sustenta Santana, que admite ter ajudado a convencer Portas a ficar.
O resultado desta crise quase fatal poderia ser a queda do executivo de Passos, mas, para Santana Lopes, a remodelação permitiu formar um Governo mais “adequado à fase em que vivemos”.
Por outro lado, acrescenta, não é verdade que o líder do CDS-PP quisesse ganhar mais poder no executivo, o que veio a suceder. Portas estaria “esgotado” e sentiu-se “tratado de uma maneira de que não gostava”. Essa conjugação de fatores, num período de “pressão acumulada”, levou a que decidisse demitir-se.
Passos Coelho “lidou bem” com o problema. “Manteve a serenidade”, destaca Santana Lopes, que considera que o primeiro-ministro está a conquistar pontos junto da opinião pública: “As pessoas começam a ganhar alguma admiração pela capacidade de resistência [de Pedro Passos Coelho]”.
O primeiro-ministro esteve melhor do que Cavaco Silva, na gestão desta crise. Para o provedor da Santa Casa, “teria sido melhor para todos” que o chefe de Estado tivesse aceitado desde logo a remodelação proposta pelo chefe de Governo, em vez de convocar os três partidos (PSD, CDS e PS) para uma negociação que acabou por falhar.
Mas as maiores críticas de Santana Lopes vão para Vítor Gaspar. Apesar de, como ministro das Finanças, ter desempenhado “um grande papel”, cometeu “o maior erro”: a carta de despedida, que era “absolutamente evitável e até de mau gosto”. “Um ministro quando sai, não trata mal o seu primeiro-ministro”, advoga Santana Lopes.
Nesta entrevista, o atual provedor da Santa Casa da Misericórdia recordou os tempos em que foi afastado do Governo por Jorge Sampaio, culpando o “batoteiro” sistema presidencialista, que permite ao Presidente da República “mandar embora uma maioria eleita pelos portugueses”.
E por falar em Presidente da República, Santana Lopes não afasta concorrer ao cargo de chefe da Nação. O homem que anda sempre por aí é evasivo, relativamente ao futuro: “Sabe-se lá o que a vida nos reserva”.