Quem consultar a biografia oficial do novo ministro dos Negócios Estrangeiros não fica a saber que Rui Machete já passou pelo BPN. É a segunda vez que a passagem de um governante por este banco é omitida da biografia oficial, recorda o Público, apontando o caso de Franquelim Alves.
Rui Machete, o novo ministro dos Negócios Estrangeiros, nunca teve qualquer relação com o Banco Português de Negócios (BPN): é esta a conclusão que resulta da consulta da biografia ontem distribuída pelo gabinete do primeiro-ministro. O documento, ontem enviado para as redações, omite que Rui Machete presidiu, durante anos, ao Conselho Superior da Sociedade Lusa de Negócios (SLN), a entidade que detinha o BPN.
É a segunda vez que o Governo omite a passagem de um elemento por um banco onde o Estado já teve injetou a fundo perdido, oficialmente, cerca de 4000 milhões de euros. O Público recorda que o primeiro caso foi o de Franquelim Alves, secretário de Estado da Inovação e do Empreendedorismo.
“O currículo público do dr. Rui Machete é aquele que foi divulgado”, justificou ao mesmo jornal Rui Baptista, assessor do primeiro-ministro. A opção do executivo passou por escrever no currículo apenas as funções públicas desempenhadas por Rui Machete.
A ligação ao BPN foi recordada de imediato por João Semedo, coordenador do Bloco de Esquerdo, que abordou a “escolha de mau gosto” para o Ministério dos Negócios Estrangeiros.
“Rui Machete foi, durante muitos anos, presidente do conselho superior do grupo BPN/SLN, teve uma posição de grande responsabilidade, muita proximidade ao que se verificou naquele grupo e que nós todos hoje sabemos, até porque estamos a pagar muitos milhões de euros que as fraudes sucessivas no grupo BPN/SLN provocaram”, salientou João Semedo, à Rádio Renascença.
O BPN não foi o único banco problemático ao qual o novo chefe da diplomacia portuguesa esteve ligado. O antigo presidente da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) foi membro do conselho consultivo do Banco Privado Português, que ao falir ditou a perda dos três por cento do capital social que a FLAD havia comprado.
No currículo enviado pelo gabinete do primeiro-ministro constam as passagens de Rui Machete por governos anteriores (foi ministro dos Assuntos Sociais, ministro da Justiça, vice-primeiro-ministro e ministro da Defesa), pelo Parlamento e por instituições públicas, como a referida FLAD e o Banco de Portugal. O documento apresenta também o currículo académico e a atividade docente.
O Público salienta ser a segunda vez que dados biográficos de um governante omitem as ligações à SLN e ao BPN: o primeiro foi o de Franquelim Alves, o secretário de Estado da Inovação e do Empreendedorismo cuja passagem pela SLN foi “a pior opção profissional”, como o governante alegou no Parlamento.
“Foi possivelmente a pior opção profissional da minha vida, não por ter algo a ver com o que se passou lá, mas por me ver confrontado com uma situação complexa. Saí, por minha mão, quando considerei que não tinha condições. Sinto-me um cidadão de pleno direito e não tenho nenhuma razão para não aceitar o convite que honrosamente me foi colocado”, afirmou Franquelim Alves.