Cada vez mais Portugal vive do turismo e este ano dizem as estatísticas que os resultados estão a superar as expectativas em algumas zonas do país. Se se mantiver a actual tendência é bem possível que os resultados sejam inclusivamente superiores aos de 2012. Recentemente uma notícia chamou a minha atenção e deixou-me a pensar sobre um tipo específico de turismo: o turismo gastronómico.
A notícia em causa explodiu nas redes sociais, nos jornais e nas televisões: já é possível deslocarmo-nos a um qualquer McDonald’s e pedirmos um Sundae com sabor de ananás. Ananás esse que é proveniente de São Miguel, nos Açores. O produto está disponível em todos os 138 restaurantes da marca e serão utilizadas doze toneladas de ananás (algo como 1% do total produzido anualmente). Esta é uma nova utilização do produto e acima de tudo é uma forma de o levar além-fronteiras. Inicialmente o sabor estará disponível durante três meses, contudo se a procurar se mantiver pode manter-se para além desse período.
Se tivermos em conta o elevado número de turistas provenientes de outros países que diariamente se alimentam nos restaurantes desta cadeia de fast food, e que a partir de agora vão ter contacto com este produto e a sua origem nacional, percebemos o verdadeiro impacto que esta parceria pode ter. As boas notícias é que esta não foi a primeira aposta do género da marca norte-americana dado que no passado já existiu um Sundae com sabor da maçã de Alcobaça e canela (curiosamente nesse caso o produto conquistou de tal forma os consumidores que esteve à venda durante cinco meses).
A minha questão é: porque é que ninguém pensou nisto antes? Associar a qualidade dos frutos nacionais a grandes marcas da restauração (neste caso específico a fast food) pode ser uma situação de win-win-win. O produtor consegue escoar o seu produto e com a projecção que vai ter está praticamente a assegurar que vai ser falado na comunicação social nacional (e quem sabe estrangeira) e que conseguirá vender mais no futuro. As marcas de fast food conseguem passar uma imagem mais saudável dos seus menus (algo cada vez mais essencial para atrair mais consumidores, e acima de tudo consumidores diferentes dos actuais) ao mesmo tempo que ajudam a economia nacional. O consumidor final, ou seja todos nós, fica com a sensação de dever cumprido ao adquirir produtos portugueses. E fica também com a consciência mais leve porque apesar de ter absorvido uma quantidade insana de calorias ao menos ingeriu também uma rodela de um fruto nacional que (claramente?) vai tornar aquela refeição muito mais saudável.
Serei o único a ver aqui um negócio com um potencial incrível? E que tal os diversos produtores e associações de produtores começarem a pensar neste tipo de mercado? Certamente não será fácil chegar a um entendimento, mas sentados à secretária é que o acordo não acontece, isso é certinho.
Não seria possível termos no Burger King um gelado com sabor a Pêra Rocha do Bombarral? E que tal uma baguete com leitão da Bairrada na Pans & Company? Se a Pizza Hut passasse a conter azeitonas de Mirandela nas suas pizzas isso seria assim tão absurdo? Voltando aos gelados porque não um com sabor a Maçã de Armamar em cada KFC espalhado pelo país? E atenção que eu estou a basear-me em exemplos bastante simples porque muitos alimentos têm aplicações e combinações desconhecidas da maioria dos consumidores.
Duas notas finais. Primeiro: um excelente exemplo é a Compal porque não teve medo de arriscar e inovou ao criar o sabor a banana da Madeira. É doce e mais do que isso é…diferente. Sim porque embora os sabores tradicionais sejam bons, é necessário mudar de vez em quando. Segundo: este texto contém inúmeras referências a marcas específicas contudo o objectivo não é fazer publicidade às mesmas nem ao estilo de comida que vendem.
Por uma questão de coerência para com a notícia referida os restantes exemplos foram outras cadeias de fast food contudo podiam ser outros quaisquer. O que interessa é promover Portugal e a nossa fantástica gastronomia!
Boa semana.
Boas leituras.
