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Nóvoa afasta recandidatura e defende que grandes estadistas “raramente foram populares”

O ex-candidato presidencial António Sampaio da Nóvoa defende que “os grandes estadistas raramente foram populares”, numa entrevista em que afasta implicitamente uma recandidatura em 2021, uma hipótese que não lhe consome “um segundo” dos seus dias.

“Não vou dizer nunca e julgo mesmo que a ideia mais forte da democracia é que todos temos de estar disponíveis e, na medida das nossas capacidades, preparados para os desafios da vida. Se há na vida uma coisa que eu procuro, é estar preparado. Mas [a Presidência] é um assunto sobre o qual não penso mesmo, não é assunto que me consuma um segundo das minhas 24 horas”, disse o atual embaixador de Portugal na UNESCO em entrevista à agência Lusa, a primeira desde que assumiu funções em Paris.

Sampaio da Nóvoa, que ficou em segundo lugar nas presidenciais de 2016, com 22,8 por cento dos votos, antecipou a recandidatura de Marcelo Rebelo de Sousa em 2021, até porque, em Portugal, o sistema político cria uma “lógica de Presidentes a 10 anos”

“É uma decisão que o Presidente [Marcelo] já praticamente anunciou. Em Portugal, até agora, sempre que os portugueses elegeram um Presidente foi para 10 anos, mesmo Presidentes que não eram muito populares, como Cavaco Silva, foram reeleitos. A lógica do sistema político é uma lógica de Presidentes de 10 anos”, argumentou.

O antigo reitor da Universidade de Lisboa mostra-se convicto de que haverá, no futuro, em Portugal um Presidente independente e sem laços partidários: “Vamos ter um dia, mais cedo ou mais tarde, um Presidente da República que não tem ligação a nenhum partido”.

Sem fazer qualquer avaliação do mandato de Marcelo Rebelo de Sousa, Sampaio da Nóvoa prefere manifestar preocupação com o crescimento do populismo e com a importância crescente da popularidade na política nacional.

“Os grandes estadistas raramente foram populares. Porque só é popular quem vive no presente, quem diz o que as pessoas querem ouvir. Aquilo que precisamos dos políticos não é que nos digam aquilo que queremos ouvir, é que sejam capazes de abrir caminhos, antecipar coisas e de ter uma visão política”, sustentou.

Embora considere que, em Portugal, o atual executivo demonstrou que “há outras possibilidades” governativas, o embaixador na UNESCO sublinha que “os problemas de fundo do país estão longíssimos de estar resolvidos”, nomeadamente no que diz respeito à distribuição de riqueza e à participação dos cidadãos.

“Não nos podemos resignar à pobreza. Para mim, é inaceitável que, desde 2000 até agora, nós estejamos a divergir do rendimento médio europeu. Eu sinto isto como um falhanço geracional”, disse o antigo candidato à Presidência da República, acrescentando: “somos maus a ter uma vida económica, uma estrutura que funcione e que vá criando riqueza para o país”.

Quanto à participação cívica, Sampaio da Nóvoa teme uma instrumentalização dos cidadãos quando convier aos partidos.

“O que notamos nos partidos é que em determinadas situações de crise, como aconteceu com as crises de 2012 e 2013, há uma agitação para abrir aos cidadãos, mas mal a situação de crise acaba, os partidos voltam todos à sua forma e ficam fechados sobre si e esquecem os cidadãos. E quando não os esquecem, é para os instrumentalizarem”, argumentou ainda o antigo reitor e professor da Universidade de Lisboa.

António Sampaio da Nóvoa foi nomeado há cerca de um ano pelo Presidente da República, após proposta do Governo, para embaixador de Portugal junto da UNESCO, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura sediada em Paris.

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