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Livro inédito de John Berger sobre os migrantes na Europa de 1970 chega a Portugal

“Um Sétimo Homem” (“A Seventh Man”), livro de John Berger inédito em Portugal, sobre os trabalhadores migrantes na Europa dos anos 1970, com fotografias de Jean Mohr e tradução de Jorge Leandro Rosa, chega no dia 08 às livrarias portuguesas.

“Pode acontecer que um livro, em contraste com os seus autores, rejuvenesça à medida que os anos passam”, disse John Berger sobre “Um Sétimo Homem”, “ensaio poético em imagens e palavras, estarrecedor retrato da experiência de trabalhadores migrantes na Europa dos anos 70”, afirma a Antígona, responsável pela edição da obra.

Uma das ideias subjacentes é que “os trabalhadores migrantes são imortais: imortais porque continuamente substituíveis. Não nasceram: não foram criados: não envelhecem: não se cansam: não morrem. Têm uma só função – trabalhar”.

Publicado em 1975, este relato foi um dos primeiros estudos sobre a vida e as experiências dos trabalhadores imigrantes nos países ocidentais, no pós-Segunda Guerra Mundial.

Feito em colaboração com o fotógrafo Jean Mohr, este verdadeiro álbum de família (em que fotografias de casamentos, primogénitos e velas de aniversário são substituídas pela coragem da partida, o choque da chegada e a nostalgia do regresso) capta as mutações no corpo e no espírito de personagens sem rosto nem nome, portugueses, sicilianos, gregos e turcos, mercadoria viva em terras alienígenas”, descreve a Antígona.

“Com um equilíbrio notável entre teoria e experiência, entre política e poesia, John Berger narra os instantes desta diáspora como metáfora perfeita das dinâmicas do ‘desenvolvimento’ e contradições do neoliberalismo”, acrescenta.

Financiada com parte do que lhe rendeu o Booker Prize (o autor terá dado a outra metade do prémio ao partido dos Panteras Negras), esta “é uma obra seminal cada vez mais relevante e uma incisiva resposta ao ressurgimento da retórica anti-imigração”.

Na escolha dos temas sobre os quais escrevia, John Berger evidenciou o seu compromisso com a escrita como forma de luta política, a mesma razão que o desviou da pintura para as letras e, embora nos últimos anos se tenha afastado de antigas posições, num dos seus últimos artigos terminou afirmando: “Sim, entre muitas outras coisas, continuo a ser marxista”.

Este é o terceiro livro de John Berger publicado pela Antígona, depois de ter editado “Modos de ver”, também traduzido por Jorge Leandro Rosa, disponibilizando a obra de novo nas livrarias portuguesas, e “Entretanto”, com tradução de Júlio Henriques.

“Modos de ver”, publicado originalmente em 1972, é um ensaio introdutório em crítica de arte, escrito como acompanhamento de uma série homónima da BBC, considerada a obra mais famosa de John Berger – a par com o romance “G”, vencedor do Man Booker Prize em 1972 – e um dos livros mais influentes na história da arte do século XX.

Entre os vários textos de Berger sobre arte, inclui-se um que escreveu em 2000, intitulado “Encontros em Lisboa”, que descreve um passeio que fez, com a filha Katya Berger Andreadakis, dissecando as ruas, os lugares, as tradições e as pessoas e enquadrando-as na pintura, especificamente, nos painéis de São Vicente, de Nuno Gonçalves.

Nos vários rostos com que se cruzou, reconheceu os lisboetas de há 500 anos, colocando cada um deles sobre cada uma das figuras presentes nos seis painéis, como um imenso puzzle humano, tendo a cidade de Lisboa como pano de fundo.

“Entretanto”, livro de 2008, é um breve ensaio, poético, sobre o mundo contemporâneo e uma denúncia da forma como o poder transforma o planeta numa prisão, segundo descreve a editora, acrescentando que este era “um dos ensaios favoritos do autor”.

John Berger foi um escritor, poeta, romancista, crítico de arte, ensaísta, dramaturgo, guionista e crítico de arte, que começou por ser pintor, mas que acabou por se virar para a escrita, não porque duvidasse do seu talento como pintor, mas por sentir que a situação política em que vivia na altura (Guerra Fria) o impelia a escrever.

Considerado um ícone da contracultura e um dos pensadores mais influentes dos nossos dias, avançou contra a corrente num tempo de especialistas e especializações.

Morreu em janeiro de 2017, em Paris, França, aos 90 anos, deixando uma vasta obra publicada, de várias dezenas de romances, ensaios, artigos na imprensa, poesias, guiões de cinema – escritas com o realizador suíço Alain Tanner –-, peças de teatro e algumas pinturas, atualmente expostas nas galerias Wildenstein, Redfern e Leicester, em Londres.

O autor ensinou desenho na Universidade de St Mary’s, em Londres, e tornou-se crítico de arte, tendo publicado vários ensaios sobre o tema.

Jean Mohr (1925-2018) foi um fotógrafo suíço que dedicou grande parte da sua vida a documentar o tormento de migrantes e refugiados para organizações como a Cruz Vermelha ou o Alto-Comissariado da ONU para os Refugiados.

Amigo e colaborador de John Berger (“A Fortunate Man”, 1967; “Another Way of Telling”, 1982; “At the Edge of the World”, 1999), resumia o seu trabalho como uma missão empática de “construir pontes entre comunidades”.

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